Título: Juro alto freia crescimento industrial
Autor: José Ramos
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Economia, p. B1
A indústria continuou a dar sinais de desaceleração em janeiro, por causa do aumento da taxa de juros. Houve queda de 1,97% nas vendas e de 2,05% no número de horas trabalhadas, comparados a dezembro, segundo dados da pesquisa Indicadores Industriais, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No entanto, o empresariado não acredita que esse processo será mantido por muito tempo. Prova disso é que a indústria seguiu contratando, como vem fazendo há 13 meses consecutivos. Houve crescimento de 0,27% no emprego em comparação com dezembro. "A confiança do empresário no longo prazo permanece", disse o economista Paulo Mól, da CNI.
Os dados mostram ainda que, mesmo com a "freada", o ritmo da indústria ainda é mais intenso do que o do início de 2004. Em janeiro, a indústria utilizava 82,4% da capacidade instalada, um recorde para o mês. Comparado a janeiro do ano passado, houve crescimento de 7,1% no emprego industrial, 8,17% nas horas trabalhadas e 10,48% na massa salarial.
Além disso, o total de salários pagos pela indústria cresce há 22 meses. "Isso é algo inédito na série histórica dos indicadores da CNI, que começaram em 1992", disse Mól. Desde abril de 2003 o volume de salários pagos pela indústria cresceu 17%. Isso, na avaliação de Mól e do economista Renato Fonseca, também da CNI, tem ajudado a retomada do consumo e a reativação da economia.
A CNI alertou, porém, que todos esses indicadores correm risco diante do processo de alta da taxa de juros. Os economistas avaliam que o aperto monetário já começa a mostrar seus efeitos. As vendas industriais, por exemplo, cresceram 3,13% ante janeiro de 2004. "Mas o ritmo de crescimento encolheu", disse Fonseca.
Em novembro do ano passado, o crescimento em relação ao mesmo mês do ano anterior estava em 10,78%, e em dezembro a margem já havia recuado para 7,77%. E na comparação entre janeiro deste ano com dezembro de 2004 houve queda de 1,97%, já descontados os efeitos sazonais. Parte da queda de vendas da indústria é explicada por uma remuneração menor nas vendas externas, por causa do real valorizado.
Em relação ao mercado interno, Fonseca disse que o desempenho dependerá do ritmo do ajuste monetário pelo Banco Central. Segundo ele, as vendas no mercado interno representam 60%. Se esse segmento for afetado por uma política de juros mais dura, prejudicará também as indústrias.
A capacidade instalada da indústria não parece ter sido afetada. Desde 1992 ela nunca esteve tão alta no início do ano, segundo a CNI. O índice dessazonalizado da ocupação ficou em 82,4%, ante 82,9% em dezembro e 80,8% em janeiro de 2004. Os números sinalizam um bom mercado para fornecedores de máquinas e equipamentos, que deverão ter prioridade, segundo a CNI.