Título: Palocci nega sintomas de 'falta de oxigênio'
Autor: André Palhano
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Economia, p. B1

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que o crescimento recorde no ano passado não parece indicar "falta de oxigênio" na indústria. O comentário do ministro foi uma resposta a uma observação sobre os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que estariam apontando um "problema de respiração" no desempenho industrial. "Nenhum processo de crescimento se dá de maneira linear. O importante é que o crescimento industrial tem sido recorde e os investimentos cresceram em 2004 o dobro da renda", afirmou Palocci. "A política monetária persegue metas inflacionárias que permitem o crescimento no longo prazo e não vamos abrir mão disso", acrescentou o ministro, reiterando que a inflação baixa garante a renda das famílias e evita a desorganização da economia.

"A política monetária provocou um aperto, não escondemos isso. Mas não há mal pior para o crescimento do que a inflação. Respeito as demandas que não compreendem a política monetária, mas acredito que ela está no caminho certo."

Em relação à política cambial, Palocci também rechaçou as críticas: "O diabo do câmbio flutuante é que ele flutua. Às vezes, favorecendo determinado segmento da sociedade, às vezes favorecendo outros." "Não posso brigar contra o sucesso do crescimento econômico, mas ele faz o câmbio flutuar. Não podemos atender a todas as demandas ao mesmo tempo", comentou.

Palocci procurou desvincular as mudanças cambiais anunciadas na sexta-feira de uma agenda de conversibilidade do governo, bem como de uma política cambial com o objetivo de estabelecer determinada taxa para o dólar. "As medidas visam à desburocratização, à simplificação, à transparência e à redução dos custos no mercado de câmbio", reiterou ele, acrescentando que "a livre conversibilidade não é a pauta que estamos desenvolvendo".

Sobre a opinião de alguns analistas de que o objetivo das medidas seria depreciar o câmbio, o ministro respondeu: "Se fosse eu, não faria nenhuma especulação a este respeito." Segundo ele, as mudanças cambiais não indicam nenhuma sinalização de que o governo não adotaria medidas de controle de capitais.

IMPOSTO E FMI

Entre as sugestões apresentadas ao governo para ajustar os efeitos da MP 232, que, entre outros assuntos, altera a tributação sobre as empresas de serviços, Antonio Palocci admitiu ter simpatia pela proposta que desonera as mudanças na base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) por meio da desoneração da folha de pagamento das empresas.

"Confesso que essa opção me sensibiliza. É justa e considera uma questão importante, que é a empregabilidade", afirmou o ministro. Ele classificou a proposta como "criativa" e disse que está sendo estudada pelo governo, assim como outras que foram apresentadas.

Sobre a renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro afirmou que "no máximo em duas semanas" o governo terá uma posição definitiva.