Título: Ipea revê previsão de crescimento do PIB de 3,8% para 3,5%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Economia, p. B3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reduziu de 3,8% para 3,5% a projeção de crescimento para a economia brasileira este ano. A revisão ocorreu porque o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano passado saiu abaixo do projetado e em razão da desaceleração provocada pela alta dos juros. E, pela primeira vez desde 2000, o setor externo deverá dar contribuição negativa para o PIB, estima o Ipea. "A política monetária vai ficar apertada por mais tempo do que pensávamos", comentou o diretor de Macroeconomia do Ipea, Paulo Mansur Levy. As projeções do Ipea levam em conta a hipótese de nova alta em março da taxa Selic (hoje em 18,75%), estabilidade na taxa até julho ou agosto e redução nos meses seguintes, até chegar a 17% no mês de dezembro.

O instituto concluiu que os núcleos de inflação ainda estão elevados (entre 0,60% e 0,70% ao mês) e isso acendeu o alerta no Banco Central (BC). O núcleo calculado para o IPCA-15 de fevereiro foi de 0,80%. Quanto ao último trimestre de 2004, o Ipea projetava crescimento de 0,7% sobre o trimestre anterior, mas o avanço foi de apenas 0,4%, o que provoca efeito estatístico nas projeções para 2005. Para janeiro, o Ipea prevê queda de 2,2% na produção sobre dezembro e crescimento de 3,2% sobre o mês no ano anterior.

O Ipea calcula que este ano o setor externo vai dar contribuição negativa (-0,7 ponto porcentual) e o interno, positiva (4,2%). Segundo Levy, isso vai acontecer porque, em 2005, as importações deverão crescer mais (18,9%) do que as exportações (10,2%). Um dos motivos é que os investimentos estão crescendo, o que exige importar equipamentos. Para 2005, o instituto prevê superávit comercial de US$ 27,7 bilhões.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO

Apesar da revisão, a nova previsão do Ipea está próxima da média do mercado. As projeções das instituições e consultorias pesquisadas pelo BC para o crescimento deste ano, divulgadas anteontem, estão em 3,69%. Já o Instituto de Economia da UFRJ projeta expansão pouco maior, de 4% para 2005. E sugere elevar o superávit primário deste ano, sob pena de o País não conseguir reduzir a relação da dívida sobre o PIB em 2005 - a meta atual é de 4,25%.

Depois de a relação dívida/PIB cair de 57,2% para 51,9% entre 2003 e 2004, esta relação deverá praticamente estagnar em 2005, indo para 52%, conforme o Ipea. Segundo o boletim do instituto, a queda do indicador "tende a esbarrar" na alta da taxa de juros real, no menor crescimento da economia e na estabilidade do câmbio sobre o ano anterior. Daí a sugestão de alta do superávit primário.

Na avaliação do Ipea, a política fiscal "parece estar contribuindo para estimular a demanda". Levy reconhece que do ponto de vista social isso é bom, mas é preciso avaliar o ritmo da expansão da demanda e da capacidade produtiva para atender a esse crescimento. De modo geral, o crescimento da economia em 2004 (5,2%) foi considerado positivo, mas, para Levy, "não dá para ignorar questões críticas que precisam ser atacadas" para ajudar no crescimento dos próximos anos.

justamente pelos empregados sem carteira: 9,6%.

A regulação do mercado de trabalho, que envolve a legislação trabalhista, a estrutura sindical e o sistema de solução de conflitos na Justiça do Trabalho, acaba influenciando o processo de informalização. O Ipea defende a flexibilização da legislação, com o aumento de opções de contratos, contemplando empregados temporários, por tempo determinado e período parcial.

Ainda para o Ipea, em janeiro houve uma pequena recuperação no grau de formalidade, sobre outubro de 2004.