Título: Bagdá sitiada: bloqueio, revista e bola na rua
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Internacional, p. A12

Chegar a local de votação é uma corrida de obstáculos na capital estritamente vigiada BAGDÁ - A capital amanhece completamente bloqueada. Às 8 horas, horário marcado para a abertura dos centros de votação, as ruas estão desertas. Pelas avenidas, vazias, só circulam carros da polícia iraquiana e veículos blindados americanos. Esporadicamente, pode-se ver algumas vans de equipes de TV locais. Não há carros nem mesmo estacionados pelas ruas. Temendo os carros-bomba, as autoridades advertiram nos dias anteriores que veículos encontrados abandonados em Bagdá seriam considerados suspeitos e explodidos pelas forças de segurança.

As crianças iraquianas aproveitam as ruas sem automóveis, por causa do bloqueio policial, para brincar. Em vários pontos da cidade podem ser vistos grupos de meninos jogando futebol.

O trabalho da imprensa foi autorizado em apenas quatro locais de votação e um centro eleitoral - este, no interior da Zona Verde, a área de segurança onde estão instalados o comando militar e a embaixada americana e as sedes de administração do governo iraquiano - e os repórteres se dirigem para um desses lugares. Ao som das explosões e dos tiros em outras partes da cidade, os carros são barrados no checkpoint montado dois dias antes pelos militares dos EUA na ponte sobre o Tigre. O veículo dos enviados especiais do Estado foi revistado totalmente, assim como seus ocupantes. Passada a ponte, outro bloqueio, desta vez da polícia iraquiana pára a equipe. Após nova checagem, o carro é liberado para prosseguir viagem até Nidhal, bairro da periferia de Bagdá onde está um dos locais de votação abertos para a imprensa. No caminho, um terceiro bloqueio iraquiano, com as ruas ainda vazias e os tiros, explosões e disparos de granadas de morteiro se intensificando.

Os bloqueios da polícia e do Exército iraquianos parecem tão perigosos quanto a ação dos rebeldes que há semanas ameaçam afogar as eleições em sangue. Vários soldados se encarregam de dar voz de comando aos motoristas e outros tantos se posicionam para pôr os veículos que se aproximam na mira de seus fuzis. Um manda o carro parar, outro ordena que ele se aproxime. Isso tudo, a distâncias de entre 50 e 100 metros.

O trajeto é feito lentamente, em velocidade nunca superior a 30 quilômetros por hora. Bagdá parece ainda mais tensa do que nos dias que precederam o da eleição e o silêncio entrecortado pelos sons da guerra soa mais ameaçador.

As forças de segurança foram autorizadas pelo governo a votar primeiro em todo o país, para depois assumir seus postos no draconiano esquema de segurança.

Em Bagdá, todo cuidado é pouco. Entre policiais e soldados estressados e armados até os dentes e extremistas dispostos a tudo para exibir seu poder de destruição, ninguém sabe de onde pode vir um tiro.