Título: Lula pede calma a empresários e diz que não haverá 'farra do boi'
Autor: Tânia Monteiro, Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva previu ontem, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que as pressões sobre o governo por mais gastos aumentarão no ano que vem, quando se aproximar o período eleitoral. Por isso, disse Lula, é preciso haver tranqüilidade. Ele garantiu que em seu governo jamais haverá "farra do boi" e as pressões não vão funcionar. No mesmo discurso, e ainda falando de recursos, Lula corrigiu os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, que na reunião do CDES chamaram de "gastos" os recursos aplicados nos programas da área social. Ele insistiu em que essas aplicações devem ser consideradas como investimentos. "Eu quero propor - esta semana já falei com o Palocci duas vezes e agora eu vi a exposição do Dirceu -, nós estamos com um hábito, com um desvio, que é o seguinte: toda vez que a gente fala na área social, a gente fala gasto, e quando a gente fala em outros setores a gente fala investimento."

Para Lula, esse não é um erro de seus dois principais ministros seus, mas um costume no Brasil. "Eu acho que não é um hábito nosso não, é um erro sociológico no Brasil", afirmou. "É preciso ter claro que quando a gente dá uma Bolsa-Família, ou quando a gente dá uma Bolsa-Escola, na verdade nós estamos fazendo um dos mais preciosos investimentos deste país, que é dar à pessoa a oportunidade de comer e isso não é gasto, isso é investimento, porque essa pessoa bem nutrida vai trazer saldo produtivo para todos nós, vai se transformar em consumidor neste país, em trabalhador. É preciso aprender que fazer coisas boas para a parte mais pobre é tão nobre quanto fazer outras coisas." Ele acrescentou que isso só pode ser visto como gasto se houver desperdício.

Para comemorar os bons resultados da economia, o presidente comparou a situação hoje com a de quem conseguiu atravessar o Canal da Mancha, que separa a Grã-Bretanha da França. "Muitos tentaram e não conseguiram. E nós chegamos, atravessamos o Canal da Mancha. Nós estamos, agora, em terra praticamente firme", disse. "Eu acho que o que nós precisamos agora é continuar com a tranqüilidade com que nós viemos até aqui, para que possamos construir mais degraus sólidos, para que a gente não tenha uma escada de papel nesse nosso objetivo de crescimento econômico."

Ao reiterar suas preocupações com o período pré-eleitoral, Lula ressaltou que a idéia de abrir os cofres nesses momentos é um erro. "Normalmente em épocas eleitorais, no Brasil, as coisas vão se tornando mais banais, as promessas vão crescendo mais, as críticas vão se aguçando, há uma tendência natural que leva os governantes a quererem gastar o que não têm, muitas vezes se endividando, imaginando que vão ganhar e, depois, deixam a dívida pública para os outros", argumentou.

Ele disse que "isso aconteceu muitas vezes na história do Brasil", mas assegurou que seu governo não repetirá este erro porque o Brasil já jogou muitas oportunidades fora. "E não estou disposto a contribuir para que a gente jogue mais uma."