Título: Lula desvincula taxa de troca no BC
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2005, Economia, p. B5

Com a defesa que fez da política econômica no último dia do Fórum Econômico Mundial, no sábado, em Davos, na Suíça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou desvincular qualquer substituição que venha a ser feita na diretoria do Banco Central das críticas ao aumento de juros. Apesar de a troca de alguns diretores ser dada como certa dentro da equipe econômica, o presidente não quer que isso seja visto como uma mudança de rumo, pondo em risco a credibilidade que seu governo conseguiu construir na economia e que lhe custou muito politicamente, mas ele já pôde colher os frutos em Davos.

Segundo um interlocutor do Palácio do Planalto, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, conseguiu conquistar a confiança do presidente e depois de todo desgaste político que o governo teve para blindá-lo com o status de ministro de Estado - evitando um bombardeio maior por parte da oposição com denúncias de sonegação fiscal - Lula não iria "jogá-lo na fogueira".

Em sinal de prestígio, Meirelles foi convidado a ir para Davos no avião presidencial mas teve de antecipar a viagem para poder participar de um jantar oferecido pelo Credit Suisse First Boston.

Na volta, Meirelles foi convocado por Lula e juntamente com sua mulher, retornou ao Brasil no avião presidencial, o que só ajudou a aumentar os comentários sobre as trocas no BC.

"Tudo tem seu momento. E qualquer mudança será para melhorar e não para mudar a política econômica", afirma uma fonte do governo.

Ao tentar pontuar a discussão sobre substituições no Banco Central, Lula está se antecipando a um problema que deverá ganhar ainda mais destaque nos próximos próximos meses: as pretensões políticas de Meirelles.

Para assumir a presidência da instituição, ele renunciou ao mandato de deputado federal por Goiás, Estado onde nasceu, pelo PSDB.

Em Goiânia, o cenário político que começa a se desenhar para as eleições do ano que vem, leva em conta uma candidatura Meirelles.

Como deputado mais votado no Estado, ele é citado como provável concorrente ao governo. No entanto, para isso, precisará se filiar a um partido político até outubro, como exige a legislação, tendo que abrir mão do comando do BC.

Como a substituição do cargo de presidente do Banco Central não é uma coisa simples, o governo precisa se preparar. Além disso, se for candidato mesmo, Meirelles terá de definir por qual partido.

Nos bastidores políticos, já se fala que ele poderia concorrer pelo PT, rompendo qualquer vínculo com o PSDB, partido pelo qual foi eleito para deputado federal e que, a cada dia, reforça o discurso de oposição ao governo.

"Os planos políticos de Meirelles, se incluírem uma candidatura já em 2006, sem dúvida será um problema que o governo terá de resolver", afirma um interlocutor do presidente Lula. "Mas isso não exige solução imediata. Por enquanto, ele fica onde está", garante.

Apesar de o governo está vivendo um momento de recomposição de força política, de olho numa agenda de reformas no Congresso e nas eleições do ano que vem, o cargo de presidente do Banco Central fará parte dessa negociação.

Esse assunto, garantem fontes do governo, será conduzido de forma totalmente separada, justamente para evitar conflitos e interpretações que comprometam a credibilidade da equipe econômica.

Nessa mesma linha, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, vem tratado da substituição dos diretores do Banco Central Alexandre Schwartsman (Assuntos Internacionais) e Afonso Beviláqua (Política Econômica) que deverão deixar o cargo tão logo o ministro defina o momento adequado.

Os dois, segundo fontes próximas, já teriam manifestado a intenção de sair do Banco Central. Os diretores alegam motivos pessoais e estão aguardando apenas o sinal verde de Palocci.