Título: Saída de 111 descontentes não abala PT, diz Genoino
Autor: Simone HarnikColaborou: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Nacional, p. A6

Segundo ele, número de desfiliados não é problema, pois partido vai promover eleições para sua diretoria com o envolvimento dos cerca de 700 mil filiados O "Momento de Ruptura", manifesto que conclama os petistas descontentes com o rumo do partido a se desfiliarem, alcançou 111 assinaturas ontem, mas não causa preocupação ao presidente do PT, José Genoino. "O partido vê com naturalidade. Não comemoraremos, mas vamos tratar todos os companheiros com respeito", disse. "Alguns deles já estavam fora do PT há algum tempo." Para Genoino, o número de desfiliados não é problema, já que o PT tem 25 anos de fundação e vai promover eleições para sua diretoria com o envolvimento dos cerca de 700 mil filiados. "Eles estão fazendo um fato em torno da sombra do PT. Isso mostra como o PT é grande. O PT vai ser generoso e vai sempre dialogar", afirmou. "Respeitamos os companheiros. Não há crise. Eles estavam nessa postura havia algum tempo. É um fato político, é natural."

O economista Plínio de Arruda Sampaio Júnior, um dos líderes do movimento de desfiliação ao lado do sindicalista Jorge Luís Martins, da executiva nacional da CUT, afirmou que até fundadores do partido estão se desfiliando. "Temos na lista original fundadores do PT em Campos, em Carapicuíba, núcleos do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Os militantes estão muito insatisfeitos", disse. "O PT mudou até por ter 700 mil filiados que não são militantes. Isso desfigura o partido."

Segundo ele, os 111 "companheiros" que se desfiliaram representam uma inquietação surgida no partido há algum tempo. "Nós estamos discutindo a permanência no PT há mais de um ano. Resolvemos aproveitar o Fórum Social Mundial para firmar uma saída coletiva e mostrar que não entregamos os pontos. É inútil tentar mudar o PT por dentro", disse. "E o grupo de descontentes não se restringe aos 111 que aderiram ao manifesto. Meu e-mail está lotado de novas adesões. No fórum, encontramos ainda muita gente disposta a sair do PT, que quer conversar com os companheiros das fábricas e dos grupos de origem para armar uma saída coletiva."

As razões apontadas pelo grupo insatisfeito podem ser resumidas a duas, de acordo com Sampaio Júnior: a convicção de que o PT não é mais o partido da mudança, pois estaria comprometido com a manutenção dos privilégios e da situação, e o entendimento de que não existe mais uma democracia interna no partido que possibilite o debate.

E o grupo do economista não é o único descontente. Seu pai, Plínio de Arruda Sampaio, faz parte do núcleo chamado de Dissidentes, que hoje agrega mais de 300 pessoas e tem a intenção de travar uma última batalha em reunião do partido até o meio do ano. Caso derrotados, devem abandonar o PT.