Título: Maluf pediu para matar Tancredo, diz Cruz
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Nacional, p. A7

`Absoluta mentira¿, reage ex-prefeito a acusação de ex-comandante militar do Planalto O general aposentado Newton Cruz, comandante militar do Planalto à época da eleição indireta de Tancredo Neves, disse em entrevista à Rede Bandeirantes que o então candidato Paulo Maluf lhe pediu para eliminar Tancredo antes do colégio eleitoral. "Pediu para matar, matar", disse o general reformado em entrevista dada ao programa Começar de Novo - 20 Anos do Colégio Eleitoral, um especial sobre os 20 anos de redemocratização do País que foi ao ar ontem à noite. Ouvido pelo mesmo programa, Maluf reagiu: "Absoluta mentira. Está sendo processado por mim." Cruz foi adiante em sua acusação. Perguntou-se por que Maluf lhe teria feito tal pedido: "Por quê? Porque estava pensando que eu era um matador. E disse que, ele presidente, eu seria o chefe do SNI."

No programa, o ex-presidente José Sarney, que assumiu a Presidência em lugar de Tancredo, afirmou que à época tinha um informante do núcleo central do então governo Figueiredo que lhe transmitia todos os movimentos e as decisões adotadas no Palácio do Planalto. O ex-senador Jarbas Passarinho contou que, no impasse da doença de Tancredo, os ministros do Supremo Tribunal Federal fizeram uma reunião informal para discutir o encaminhamento jurídico adequado - quem tomaria posse?

Segundo ele, a reunião se deu na casa do ex-ministro Aldyr Passarinho, seu primo, e a decisão, por consenso, foi de que o vice José Sarney deveria tomar posse. Passarinho revelou que essa decisão foi importante porque significou a garantia jurídica à posse de Sarney, que o então presidente Figueiredo não aceitava.

À garantia jurídica, disse Passarinho, seguiu-se o aval militar, vindo do general Leônidas Pires Gonçalves, que seria ministro do Exército do novo governo. Passarinho disse que o desgaste do regime militar se deu por fadiga e contou sempre ter defendido que o poder fosse entregue aos civis ao fim do governo Médici, em 1974. O empresário José Mindlin relatou que muitos grandes empresários de São Paulo decidiram, em 1984, reunir recursos para custear a campanha das Diretas-Já.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que sua primeira conversa com Tancredo sobre eleição indireta ocorreu num jantar na residência do ex-deputado Fernando Lyra. "Eu disse a Tancredo que o candidato tinha de vir de Minas. Ele pegou no meu braço e disse: `O meu candidato é você¿. Aí eu tive certeza de que ele era candidato", relatou Fernando Henrique, que chamou Tancredo de "um sábio". Maluf disse que "as forças políticas que sustentaram o regime militar ajudaram a eleger Tancredo e se perpetuaram no poder".