Título: No adeus, os protestos de sempre
Autor: Lisandra ParaguassúEnviada Especial
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Nacional, p. A7

Marcha de encerramento atacou imperialismo, Alca, FMI e Bush PORTO ALEGRE - Depois de seis dias de debates com representantes de 135 países, o Fórum Social Mundial encerrou ontem sua quinta edição com uma caminhada de cinco quilômetros que elegeu o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, como alvo de um estridente protesto. Munidos de faixas e bandeiras contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a guerra no Iraque, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o imperialismo, manifestantes de vários sotaques vaiaram Bush logo no início da marcha. Usando uma máscara do presidente dos EUA, o ativista Roberto Ferdinando, de uma organização não-governamental antiglobalização, empunhava uma espingarda e tinha um cartaz pendurado no corpo com os logotipos de ícones norte-americanos, como Marlboro, Coca-Cola e McDonald¿s. Um boneco de Tio Sam também era arrastado e chutado pelas ruas.

A caminhada saiu da Avenida Beira-Rio, às margens do Guaíba, e reuniu cerca de 20 mil pessoas, segundo os organizadores. A Brigada Militar, no entanto, calculou o número de presentes em 3 mil. No Largo Glênio Perez, onde a manifestação terminou, os ponteiros de um relógio digital marcavam 38 graus.

"Essa marcha representa a unidade de todos os movimentos sociais na luta contra a Alca, a guerra no Iraque e a política militarista de Bush", disse João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem-Terra (MST), na comissão de frente. "O império americano é nosso inimigo comum."

HERÓI

Enquanto Bush era chamado de "terrorista", o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, recebia aplausos entusiasmados sempre que tinha o nome citado. "Te cuida, te cuida, te cuida imperialista, a América Latina vai ser toda socialista", gritavam os manifestantes, os mesmos que no dia anterior transformaram Chávez em herói do Fórum Social, ao ouvir seu discurso no Ginásio Gigantinho.

Ao contrário da caminhada que marcou a abertura do encontro mundial das esquerdas, no último dia 26, a passeata de ontem exibiu pouquíssimas bandeiras do PT. Além disso, os petistas não vestiram a camiseta com a inscrição "100% Lula", distribuída pelo partido para defender o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, quando ele esteve em Porto Alegre. O único manifestante encontrado ali com a camiseta era da direção do PC do B.

Os militantes do PSTU concentraram-se na última ala da marcha e, além de puxarem palavras de ordem contra o imperialismo, bradavam contra o governo Lula. Um dos gritos de guerra era "Fora já, fora daqui, o Bush do Iraque e o Lula do Haiti".

Radicais que ajudaram a vaiar Lula há cinco dias, os trotskistas do PSTU também revezavam o coro com outro refrão: "Que traição, que coisa triste, ex-operário governando pra elite". No trajeto, entoavam hits de Geraldo Vandré, como o indefectível Pra não dizer que não falei de flores, e clássicos de Mercedes Soza.

Do alto do caminhão da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Edgardo Lambert, representante da Venezuela, afirmou que a realização do fórum social em seu país, em 2006, será importante para fortalecer Chávez contra os EUA.

Mas a proposta de levar o encontro para Caracas ainda não pode ser vista como favas contadas, pois precisa ser confirmada, em abril, pelo conselho internacional do fórum. E muitos integrantes desse comitê temem a exploração política do evento por parte de Chávez.