Título: Fórum Social chega ao fim sonhando com menos teoria
Autor: Lisandra ParaguassúEnviada Especial
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Nacional, p. A7

Foram 155 mil participantes de 135 países, que debateram 352 propostas - uma delas, democratizar OMC e FMI PORTO ALEGRE - O 5º Fórum Social Mundial terminou ontem com a apresentação de 352 propostas formuladas pelos participantes e publicadas em grandes painéis brancos. Entre elas, a de democratização dos organismos internacionais como Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (OMC) e a mobilização internacional Chamada Global para Ação contra a Pobreza. Criticado até hoje por ser muito teórico e pouco propositivo, os organizadores do FSM decidiram apresentar os resultados dos debates, incluindo-as na página do encontro na Internet (www.forumsocialmundial.org.br). "Havia uma tentativa de desqualificar o que era feito aqui, como se os debates e as discussões não tivessem utilidade. Então resolvemos, este ano, apresentar as propostas concretas do Fórum, que podem ser acompanhadas pela Internet", disse Oded Grajew, um dos organizadores do encontro. Nos anos anteriores foram definidas centenas de propostas, nunca colocadas no site. De boa parte delas não se sabe o destino, mas Grajew aponta alguns fatos como resultado de Fóruns anteriores. Uma delas seria a decisão de França e Alemanha de não entrarem na guerra do Iraque. "As mobilizações internacionais foram preparadas aqui", disse.

"É assim que a sociedade civil funciona. Quando cai a ficha de que uma coisa não serve mais, ela começa a mudar. É essa consciência que estamos debatendo aqui", disse. O Fórum termina com a proposta de algumas campanhas. Uma das principais é a proposta de democratização dos organismos internacionais.

NÚMEROS

O Fórum recebeu, segundo os números finais, 155 mil participantes de 135 países, dos quais 35 mil no acampamento da juventude, que superlotou. No final de março deste ano, o comitê internacional do Fórum decidirá os locais dos encontros descentralizados de 2006. Na América do Sul, a Venezuela é a mais forte candidata.

Das instituições mundiais, só a ONU mandou representantes. Há também um movimento para acabar com a desigualdade no mundo e a proposta de um Fome Zero internacional. Para o Brasil, há a idéia de uma rede de monitoramento dos governos locais para o cumprimento das Metas do Milênio - conjunto de objetivos sociais definidos pela ONU para 2015 - por município.

Também há propostas menos abrangentes. Uma delas pretende "democratizar o futebol", dando mais acesso aos torcedores nas decisões dos clubes. Uma outra pretende a "Transmutação da Consciência através da Arte", explicando à população os "novos paradigmas e a física quântica". Também há um grupo que exige a saída das tropas brasileiras do Haiti e outro que quer o fim do projeto de reforma sindical feito pelo governo.

Uma das propostas propõe ajudar o Fórum a sair da pura teoria, com "mecanismos de articulação que permitam uma intervenção global do FSM". Entre os pontos apresentados está a realização de fóruns articulados com o Fórum Econômico de Davos. A proposta dificilmente será levada adiante: a resistência a Davos é suficientemente forte para desprezar a proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de um encontro entre os dois grupos. "Não há nenhuma possibilidade de isso ocorrer", disse Chico Whitaker, um dos membros do Comitê internacional.

Para Grajew, os dois Fóruns são "animais muito diferentes" e Davos é um negócio. "Eles já me procuraram também, dizem que estamos no mesmo barco, mas essa idéia de diálogo não interessa ao FSM. É simplesmente para limpar a barra deles. Estamos no mesmo barco mas uns estão na primeira classe e outros no porão", disse ele.