Título: Primeiro-ministro lança um 'diálogo nacional' pela unidade
Autor: AP, AFP e DPA
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Internacional, p. A12

Allawi pretende que todas as facções do país tenham voz no governo a ser formado pela Assembléia eleita BAGDÁ - Enquanto prosseguia ontem a apuração dos votos da eleição de domingo para a Assembléia Nacional, o primeiro-ministro interino do Iraque, Iyad Allawi, fez um apelo ontem aos grupos étnicos e religiosos do país para que se unam e anunciou que iniciaria ainda ontem um "diálogo nacional" para garantir que todos os iraquianos "tenham voz no governo". "Os terroristas agora sabem que não podem vencer", declarou. Allawi é um dos candidatos a uma vaga na Assembléia, na qual espera ser nomeado primeiro-ministro no governo provisório que os legisladores escolherão.

Oficialmente, as autoridades eleitorais estimam que 8 milhões de iraquianos foram às urnas, mas ainda não há um resultado oficial sobre o comparecimento, que foi elevado nas regiões curdas e árabes xiitas e muito baixo nas províncias de maioria árabe sunita. Funcionários disseram que a abstenção nas áreas sunitas foi menor do que a esperada, mas não citaram números.

A estimativa é que a apuração só seja concluída na semana que vem. Altos funcionários iraquianos disseram que resultados parciais podem começar a ser divulgados na manhã de hoje. De acordo com a Comissão Eleitoral, a primeira etapa, de contagem dos votos em 5.200 centros regionais, foi concluída. Agora, esses números serão computados em Bagdá.

Membros da principal coalizão de grupos xiitas, a Aliança Iraquiana Unida - apoiada pelo grão aiatolá Ali al-Sistani -, disseram estar convencidos de que conquistaram o maior número de cadeiras: cerca de 45% das 275 em disputa. Analistas políticos avaliam que o grupo de Allawi teria ficado em segundo lugar, seguido de uma facção curda.

Os votos depositados nos 14 países em que os imigrantes puderam votar estão sendo contados em Amã, na Jordânia.

Em Bagdá, o Comitê dos Ulemas Iraquianos, integrado por líderes religiosos da comunidade sunita, questionou ontem a legitimidade das eleições e pôs em dúvida as evidências sobre o elevado comparecimento. "O índice de participação não foi tão alto como se disse e a imagem que apresentam aos jornalistas não é verdadeira, já que a imprensa só teve acesso a cinco seções eleitorais", disse um porta-voz do comitê, xeque Omar Ragheb. Ele se referia ao fato de os correspondentes só terem recebido autorização para visitar quatro locais de votação escolhidos pelas autoridades. O comitê fez campanha pelo boicote da eleição, alegando que o país está sob ocupação estrangeira.

Allawi advertiu a população de que os grupos extremistas continuarão com os ataques para tentar minar o processo de democratização do país. Ontem, três militares americanos foram mortos na explosão de uma bomba numa estrada ao sul de Bagdá. Num site na internet, a Organização Al-Qaeda no Iraque, do terrorista Abu Musab al-Zarqawi, classificou a eleição de "jogo americano" e prometeu prosseguir com a guerra contra as forças de ocupação.

Pelo menos quatro prisioneiros iraquianos foram mortos ontem por soldados americanos durante um motim na prisão de Camp Bucca, perto de Umm Qasr, sul do Iraque, informou o comando militar dos EUA. Seis detentos ficaram feridos.