Título: Brasil capta US$ 1, 25 bi e dólar cai para menor cotação em 3 anos
Autor: Sheila D'Amorim, Lucinda Pinto, Priscilla Murphy,
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Economia, p. B1

Queda em relação ao real e a outras moedas já dura sete meses e decorre dos enormes déficits fiscal e comercial dos EUA O dólar despencou ontem para o menor valor em quase três anos. A baixa foi de 1,36%, para R$ 2,61. A desvalorização do dólar ante o real, que já dura sete meses, foi impulsionada ontem pelo anúncio de uma nova emissão soberana do Brasil, de US$ 1,25 bilhão, com prazo de 25 anos e juros de 8,9%. O dólar já caiu 17% ante o real desde o pico de 2004, de R$ 3,21, em maio. O dólar vem se desvalorizando em relação às principais moedas do mundo em conseqüência dos enormes déficits fiscal e comercial dos Estados Unidos. No mercado internacional, o euro era negociado no fim da tarde por US$ 1,30, em alta de 0,18%.

"A queda é movida muito mais pelo que diz respeito ao dólar em relação ao resto do mundo do que ao real", diz a economista Renata Heinemann , do Banco Pátria de Negócios. No entanto, ela afeta especialmente o Brasil. "Se a onda é vender dólares e comprar outras moedas, o real tem sido muito atraente para os investidores internacionais e tem a vantagem (para o investidor) de remunerar com um dos juros mais altos do mundo."

Também contribuiu a entrada de dólares no País por causa de uma série de emissões do setor privado nas últimas semanas. No entanto, os recursos da nova captação soberana não passarão pelo mercado, vão direto para as reservas do País.

De todo modo, essa operação, realizada apenas 11 dias após a primeira emissão deste ano, de 500 milhões, mostra que persiste o interesse dos investidores pelo Brasil, disse um operador.

A idéia do governo brasileiro é aproveitar o cenário internacional favorável do início de ano e também o período em que os grandes fundos de investimento e de pensão estão definindo os países em que aplicarão seus recursos para se mostrar como alternativa atrativa.

Segundo fontes ligadas à operação, a emissão brasileira despertou grande interesse dos investidores e fez com que a demanda beirasse os US$ 4 bilhões. Por conta disso, o governo decidiu até elevar a quantidade de títulos que estava prevista inicialmente e fechou a emissão com US$ 250 milhões a mais.

Apesar da insistência de alguns analistas e representantes do próprio governo para que o Banco Central (BC) faça compras mais fortes de dólares no mercado para aumentar as reservas e, ao mesmo tempo, desvalorizar o real, estimulando as exportação, a opção por uma operação externa reforça também a preocupação da equipe econômica com a inflação.

A desvalorização do real seria mais um fator de pressão sobre os preços, comprometendo ainda mais a trajetória da meta de 5,1% estipulada para o ano.

O governo já captou em outubro do ano passado US$ 1,5 bilhão referente a uma antecipação do cronograma deste ano, estimado em US$ 6 bilhões. Assim, somando as três operações - se confirmado o valor de US$ 1,25 bilhão - relativas às necessidades de financiamento deste ano, o governo já teria emitido US$ 3,402 bilhões. Restariam, portanto, cerca de US$ 2,598 bilhões para o cumprimento do cronograma do Tesouro para 2005, comentou um analista.

Para o governo, é muito importante captar o máximo possível este ano para adiantar as necessidades de financiamento externo de 2006, diz a analista do Pátria. "O ano de 2006 será marcado pelas eleições presidenciais e por isso o mercado tende a estar pior", diz ela.

O momento da captação foi muito bom, acrescentou a economista, porque precede a reunião do BC americano, cujo resultado sai na quarta-feira.