Título: Empresas aceitam bilhetes da Vasp
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/02/2005, Economia, p. B14

Por ordem do Departamento de Aviação Civil, elas estão transportando os passageiros, mas não sabem se vão receber pelo serviço As empresas aéreas que foram obrigadas pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) a transportar os passageiros da Vasp não têm perspectiva ou esperança de receber pelo serviço. "Estamos fazendo isso em consideração aos passageiros e atendendo a um pedido do DAC", afirmou o gerente da Varig no Aeroporto de Congonhas, Edevaldo Roberto Chechetto. "Não temos nenhuma expectativa de reembolso". Por intermédio de sua assessoria, a TAM informou que os passageiros estão embarcando normalmente, conforme o pedido do DAC. Depois de cancelar, na quarta-feira, as últimas oito rotas que a Vasp ainda mantinha, na sexta-feira o DAC divulgou comunicado determinando que as demais empresas transportassem os passageiros da Vasp. Apesar de as empresas exigirem que o bilhete seja endossado pela Vasp, como a empresa de Wagner Canhedo não faz mais parte do acordo de compensação firmado pelas principais companhias aéreas do País, não há nenhuma garantia de que irão receber. A Vasp foi excluída da câmara de compensação em outubro, por inadimplência.

Para conseguir voar, o passageiro que tiver um bilhete da Vasp tem de solicitar o endosso (um carimbo e uma assinatura) da empresa e, em seguida, apresentá-lo no balcão de outra companhia. As empresas se comprometem a transportar os passageiros, desde que haja lugar nos vôos. No caso da Varig, há um limite de cinco passageiros por vôo, desde que haja assentos vazios. A TAM não tem essa restrição, desde que haja lugares vagos. Procurada, a assessoria da Gol não soube informar se os passageiros estavam conseguindo embarcar, nem quais seriam as condições.

Como os vôos para o Nordeste estão lotados por causa do carnaval, é possível que nos próximos dias os passageiros com bilhetes da Vasp enfrentem alguma dificuldade para embarcar. Para se garantir na volta do feriado, o especialista em vendas Christian Teles estava ontem no aeroporto tentando fazer reservas na Varig, TAM e Gol. "Preciso estar de volta a São Paulo na quarta-feira, sem falta. Vou tentar reservar e seja o que Deus quiser", disse ele, que viaja com um bilhete bônus, adquirido dentro do programa de fidelidade da Vasp, no qual era possível trocar nove tíquetes usados de embarque por uma passagem. Teles pagou R$ 250 para adquirir os tíquetes de um amigo. "Não tenho nem como pedir reembolso."

A contadora Mariza Queiroz também depende da sorte para que a sua filha de 11 anos, que está em férias com a avó em Pernambuco, consiga voltar para São Paulo. Com o recibo de um bilhete comprado em dezembro, ela tentava sem sucesso endossar antecipadamente a passagem, marcada para o dia 16 de fevereiro, que já foi enviada para Pernambuco. "Minha mãe tem 78 anos e mora a uma hora e meia do Aeroporto de Recife. Tenho medo que ela não consiga endossar o bilhete e embarcar a minha filha no mesmo dia", diz Mariza. "Mas não tenho opção."

Na Varig, os bilhetes da Vasp irão valer até o final de fevereiro. Como a Vasp estava com uma participação de mercado muito pequena, de apenas 0,75% - contra cerca de 10% no início ano passado -, a expectativa é de que em um mês todos os bilhetes terão sido absorvidos pelas demais empresas.

MANIFESTAÇÃO

Os funcionários da Vasp preparam uma manifestação para o próximo dia 3, em frente à sede da empresa, ao lado do Aeroporto de Congonhas. "Pretendemos fazer uma caminhada pacífica até o aeroporto, com o objetivo de sensibilizar os órgãos competentes", afirmou o diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Marcelo Garcia. Além de reclamarem os salários atrasados, os funcionários querem cobrar providências do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. "O governo de São Paulo é acionista da Vasp e isso não pode ser esquecido."