Título: Furlan quer 'gás' para exportar mais
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2005, Economia, p. B4

A meta do governo é ultrapassar os US$ 120 bilhões em exportações em 2006, disse ontem o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Para isso, porém, dependerá de um "gás" da equipe econômica na área cambial. A farpa foi disparada contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na reunião de ontem do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). "Ultrapassar (a meta de US$ 120 bilhões em vendas externas) vai depender de um gás", afirmou Furlan, ao ser interrompido por Lula, que não havia compreendido os números que apresentara. "O ministro Palocci nos deu um alento e o câmbio abriu a R$ 2,73 hoje. Vim alegre para cá. Mas não vou mais falar em câmbio", concluiu, referindo-se ao pacote que alterou regras da política cambial, divulgado sexta-feira.

Furlan aproveitou ainda para queixar-se, indiretamente, do fato de a regulamentação das medidas cambiais ter sido divulgada na página do Banco Central na noite de segunda-feira, sem prévia comunicação a seu ministério. "Meu pessoal está decodificando hoje as suas 200 páginas", disse, voltando-se para Palocci.

Tão otimista quanto seu colega da Fazenda em relação à redução da carga tributária, Furlan informou que o Brasil continuará gerando saldos positivos de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões anuais em sua balança comercial. O esforço exportador, defendeu, depende também de pequenas ações, a começar pela atenção para com o comércio com mercados considerados pequenos.

"Exportação é como um minestrone. As batatas são as commodities, os bens industriais são as verduras, e os produtos especializados de pequenas empresas são como os cogumelos, os funghi e as trufas, que mesmo um pouquinho faz a diferença", receitou.

O ministro aproveitou para também insistir em duas novas propostas, encaminhas pelo setor privado ao Ministério do Desenvolvimento e atualmente em análise pela Fazenda. A primeira é a criação de um fundo de investimentos em infra-estrutura, cujos rendimentos seriam desonerados dos tributos federais. Conforme explicou, seria um meio de atrair o capital de risco e os fundos de pensão para aplicar seus recursos em projetos nas áreas de transportes e energia e para agilizar as Parcerias Público-Privadas (PPP).

A outra proposta é a desoneração do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para um conjunto de materiais de construção civil, assim como se pretende fazer com a cesta básica de alimentos, na segunda etapa da reforma tributária. Furlan teve uma conversa reservada com Palocci antes da reunião, quando enfatizou as propostas. "O ministro Palocci ouve", limitou-se a dizer.