Título: Disputa foi crescente nas telecomunicações
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2005, Economia, p. B7

As disputas no setor de telecomunicações entre o banqueiro Daniel Dantas, de um lado, e os fundos de pensão de estatais e os acionistas italianos e canadenses, de outro, vieram à tona em 2000, quando as fundações começaram questionar o método de gestão do Opportunity. A instituição elaborou uma intrincada estrutura societária, com uma série de "empresas cascas", como são chamadas as companhias que existem apenas no papel, para conseguir comandar todas as seis empresas nas quais o Fundo CVC detém o controle acionário. Assim, mesmo tendo participado minoritariamente do negócio durante a privatização do Sistema Telebrás, o Opportunity conseguiu ser o "dono" de fato dos negócios. Os investidores, que pagaram pelas companhias, viraram coadjuvantes na administração das empresas. A principal frente de batalha da guerra societária que se instalou foi travada na Brasil Telecom, onde o Opportunity disputava o poder com o Grupo Telecom Italia e os fundos de pensão.

Mas os conflitos se estenderam ainda à Telemig Celular e à Amazônia Celular, onde Daniel Dantas adotou exatamente a mesma estratégia. Neste caso, foram os canadenses da TIW que se juntaram à Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobrás) e Funcef (da Caixa) para tentar barrar as investidas do Opportunity. Em 2003, depois de muita briga na Justiça, o grupo canadense jogou a toalha e decidiu deixar o País. Vendeu por US$ 70 milhões - valor que não reembolsou a quantia investida - sua fatia nas operadoras celulares ao grupo de Daniel Dantas.

O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, afirma que o investimento das fundações no Fundo CVC foi feito de forma inadequada, sem levar em conta os direitos dos cotistas. "Isso trouxe um mal muito grande para o País e também deixou os investidores estrangeiros mais retraídos. Os fundos de pensão também ficaram mais receosos em fazer parcerias com outros gestores. Aprendemos muito com esse caso e não queremos que isso se repita."

Ontem, o superintendente de Serviços Públicos da Agência Nacional de Telecomunicações, Marcos Bafutto, recebeu os advogados do Citigroup. Eles protocolaram documento informando oficialmente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a decisão de destituir o Opportunity da gestão do Fundo CVC. A superintendência vai analisar o documento e a natureza da operação para se pronunciar "no tempo devido".