Título: Citi mina o poder de Daniel Dantas
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2005, Economia, p. B7

O Citibank destituiu, por justa causa, o Opportunity da gestão de seus negócios no Brasil, feitos por meio do fundo de investimentos CVC Opportunity internacional. A decisão põe um ponto final no poder que o banqueiro Daniel Dantas manteve em operadoras de telefonia, como a Brasil Telecom, sempre em litígio com outros acionistas controladores. Depois de cinco anos de briga societária declarada, o Citi aliou-se aos fundos de pensão, que estavam do outro lado do ringue. O afastamento do Opportunity terá um efeito em cascata em, pelo menos, seis empresas controladas por investidores do Citi no País. O que se prevê é uma substituição em série de executivos e até diretorias inteiras. A mudança mais profunda será mesmo no setor de telecomunicações brasileiro.

O fundo CVC tem patrimônio de cerca de R$ 2 bilhões, e controla três operadoras: a Brasil Telecom, Telemig Celular e a Amazônia Celular. Além disso, ainda tem participação indireta na Telemar. As outras três empresas controladas pelo fundo são o Metrô do Rio, Sanepar e o terminal portuário Santos Brasil.

Dantas está na Inglaterra, tentando ainda, na Câmara Arbitral de Londres, afastar a Telecom Italia definitivamente do grupo de controladores da Brasil Telecom. No fórum londrino, Daniel Dantas - executivo conhecido no mercado tanto pelo tino administrador quanto pelo método "rolo compressor" freqüentemente usado contra os adversários - apresentou recurso para impedir que os italianos retomassem o comando da empresa, que abandonaram temporariamente para lançar sua operadora celular. Hoje começam os depoimentos, mas a palavra final do júri só será conhecida em abril.

Fontes que acompanham o processo revelam que a gota d'água para a destituição foi a oferta da fatia do CVC estrangeiro na Telemig Celular e Amazônia Celular, decidida à revelia do Citibank. A oferta deve ser cancelada. Em relatório divulgado ontem, o banco americano Merrill Lynch previa a venda também da participação do Citi na Brasil Telecom para a Telecom Italia.

No mercado, as apostas são de que os fundos de pensão e o Citi já estariam trabalhando na venda de todos os ativos de telecomunicação controlados pelo grupo. O objetivo é bastante claro e teria sido a motivação principal do acordo entre as partes. A destituição do banco de Daniel Dantas foi formulada em conjunto pelo Citigroup e os fundos de pensão, pois ambos tinham receio de ficarem isolados sem um gestor comum.

O afastamento do Opportunity foi bem recebido pelo mercado financeiro, que vê a saída de Dantas uma chance de acabarem os imbróglios societários. Ontem, as ações da companhia subiram 21,8% (preferenciais). A perda de poder do banqueiro começou em 2003, quando o Opportunity perdeu a gestão do CVC nacional, que reúne os fundos de pensão brasileiros. A destituição veio depois de mais de três anos de desentendimentos e mais de 50 ações judiciais - de parte a parte - com Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica).

Mas, por ainda ser representante do Citibank, o Opportunity de Dantas continuou à frente das decisões. O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, confirmou que fundos negociavam há meses com o Citi a saída do banqueiro. "Esperamos que agora se possa restabelecer um espaço para uma maior governança corporativa nas empresas. Essa briga com o Opportunity se arrastava há muitos anos e a saída dele vinha sendo negociada com o Citibank", afirmou.

O executivo adiantou que as fundações querem uma gestão mais próxima do banco. O primeiro passo nessa direção foi dado com a assinatura de um acordo de acionistas entre os fundos CVC nacional e estrangeiro. Com isso, as fundações garantiram direitos antes exclusivos do Citibank, como o de venda em conjunto e o de preferência em caso de venda.

Depois de tirar o Opportunity da gestão, a próxima etapa dos investidores é realizar assembléias nas empresas controladas para substituir os representantes indicados por Daniel Dantas em diretorias e conselhos de administração.

Anteontem, o banco americano informou às empresas na qual o fundo detém participação a intenção de trocar o grupo de Dantas pelo Citigroup Venture Capital International Brazil. Mas, apenas a Telemar, empresa onde a participação do fundo é minoritária, decidiu publicar um fato relevante sobre o assunto. Ontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou que todas as outras empresas também divulgassem. (Colaboraram Irany Teresa e Graziela Valenti).