Título: Guerra de tarifas aéreas se alastra
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2005, Economia, p. B17

As vendas da Gol pela internet bateram novo recorde na quarta-feira, quando a empresa vendeu 89 mil bilhetes. Apesar de a empresa ter anunciado uma redução geral nos preços das tarifas por tempo ilimitado, e não uma promoção temporária, o site da empresa ficou congestionado desde segunda-feira, com uma média de 1,5 milhão de visitas por dia. Em três dias, a empresa vendeu nada menos do que 231 mil bilhetes. Quem não conseguiu acessar o site correu para o aeroporto para economizar. Foi o caso do empresário mineiro Paulo Paiva, que viajou para São Paulo pela TAM por R$ 368 e retornou ontem para Belo Horizonte com um bilhete de R$189 da Gol. "Valeu a pena, fiz uma economia de R$ 179."

O sucesso da redução tarifária da Gol agitou a concorrência. Depois de lançar uma promoção de Páscoa bastante limitada, restrita a passagens de ida nos dias 25 e 26 de março, a Varig ampliou os prazos ontem. Agora o desconto de até 70% vale também para a volta, entre os dias 28 e 2 de abril.

A TAM, que também lançou uma promoção de Páscoa na qual o passageiro compra a ida e ganha a volta, já começa a falar em uma possível redução tarifária, aos moldes da Gol, por tempo ilimitado. Este realinhamento de tarifas poderá acontecer nos próximos seis meses.

Até a companhia regional OceanAir aderiu à temporada de descontos. Com apenas 0,3% do mercado de aviação, a OceanAir lançou ontem descontos por tempo indeterminado de até 39%. Assim como a redução tarifária da Gol, os maiores descontos afetam as tarifas mais baixas - o famoso "a partir de". Com o desconto, o trecho Salvador-Aracaju custa "a partir de R$ 149".

Com ou sem promoção, uma rápida enquete na fila do check-in mostra que a variação de preços dentro de um mesmo vôo é grande. O industrial Fernando Faro pagou tarifa cheia de R$ 299 para voar na Ponte Aérea Rio-São Paulo ontem à tarde, pela Gol. No mesmo vôo, havia passageiros que pagaram R$ 210 e até R$ 99. O felizardo que pagou R$ 99 foi o engenheiro Evaldo Gomes. "Comprei há quinze dias, antes da redução", disse. "Esse negócio de promoção é uma loteria. Quando você consegue entrar no site só consegue comprar pelo preço normal."

NOVAS EMPRESAS

A competição no setor aéreo deve ficar ainda mais quente com a previsão de entrada de nove novas companhias no mercado ainda este ano. São companhias de vôos regulares, fretamentos, cargueiras ou regionais, que receberam do Departamento de Aviação Civil (DAC) a portaria de funcionamento, revelou ao Estado o diretor-geral do DAC, major-brigadeiro Jorge Godinho.

As novas companhias aéreas, conta Godinho, têm prazo de 12 meses para entrar em funcionamento, após terem recebido o aval do DAC. São elas: Web Jet, Capital, Aeropostal, Globex, Air Minas, Sete, FG Linhas Aéreas (empresa de charter da CVC), Jet Sul e Team. No mínimo, as estreantes vão acrescentar 18 aeronaves à frota nacional.

No início da semana, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendeu justamente a entrada de novas competidoras no mercado para estimular a concorrência. "Estamos afinados", declarou Godinho, ao ser perguntado se o DAC está em linha com as decisões e rumos do governo e dos ministérios envolvidos com a reestruturação do setor aéreo.

Especialista em aviação, Paulo Sampaio diz ser a favor de mais empresas aéreas no setor, desde que elas estejam bem estruturadas financeiramente. "O DAC examina especialmente a parte técnica. Não sabe avaliar a parte econômico-financeira", diz.

Para ele, a chegada de novos competidores deverá ter maior impacto para a Varig, já que TAM e Gol mostraram balanços financeiros substanciais. "Para a Varig qualquer coisa tem impacto. Para a Gol e a TAM, que contam com aeronaves novas e dinheiro em caixa, não", afirma.

A entrada de novas empresas, afirma Godinho, mostra que o DAC já está flexibilizando as regras do setor aéreo, que passou por um período de regulação e ajuste depois da publicação da controversa portaria 243, do Comando da Aeronáutica, em março de 2003. Ela determinava a regulação da oferta e o controle da importação de aeronaves, entre outros itens.

Naquela época, lembra Godinho, havia excesso de oferta. Em 2002, a taxa média de aproveitamento dos aviões no mercado doméstico era de 57%. Hoje, está em 66%. O número de assentos ofertados por quilômetro recuou de 47 bilhões para 43 bilhões este ano. A lucratividade, que era negativa em 2002 (-8,3%) agora está positiva em 6,3%. "A portaria 243 fez o seu papel, deu sua contribuição para as empresas", diz.