Título: Lula mexe no ministério para se reeleger no 1.º turno
Autor: Expedito Filho e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Nacional, p. A6

A reforma ministerial imaginada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para esta semana tem objetivo e estratégia bem definidos: assegurar sua reeleição no primeiro turno, em outubro de 2006. Para chegar lá, Lula está convencido da necessidade de ampliar a participação do PMDB no governo, neutralizar o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), e consolidar a aliança com outros partidos de sua base de sustentação, como o PTB e o PL. No horizonte do presidente, a reeleição tem mais chances de êxito se já na primeira rodada o PT contar com o apoio de todos os aliados, principalmente do PMDB. "Se eu pudesse contar com o PMDB unido seria muito bom", disse Lula ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O problema é que o PMDB tem a unidade de um pão de forma fatiado: está dividido.

De um lado estão Renan e José Sarney (AP) no Senado; do outro, Michel Temer (SP) e Geddel Vieira Lima (BA) na Câmara. Além disso, o secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho, tornou-se um complicador porque sonha com o Planalto e espera seduzir os peemedebistas com sua candidatura à Presidência. "O PMDB é o nó dessa reforma", avalia o líder do PP na Câmara, José Janene (PR).

Na tentativa de pôr a maior banda do PMDB em seu palanque, Lula ofereceu três ministérios para o partido: Comunicações, com a possível manutenção de Eunício Oliveira; Previdência Social, onde está prevista a substituição de Amir Lando pelo senador Romero Jucá (RR); e Cidades ou Integração Nacional, com a heterodoxa solução de nomear a senadora Roseana Sarney (MA), pefelista licenciada, na cota do PMDB por grau de parentesco. Filha do ex-presidente Sarney, Roseana deve se filiar à legenda a médio prazo. Já foi convidada para a equipe de Lula, mas a pasta ainda depende da arquitetura política da reforma ministerial.

Ainda na linha de anabolizar apoios, Ciro Gomes, do PPS, foi convidado para trocar a Integração pela Saúde, hoje nas mãos do petista Humberto Costa. A dificuldade, segundo um ministro envolvido nas negociações, é que Ciro teme comparações entre sua gestão e a do ex-ministro José Serra. "Ciro sabe que vai ser avaliado a partir da gestão de Serra, e não da administração Humberto Costa. Aí está a dificuldade", revelou um ministro ao Estado. Outra razão, difundida por amigos de Ciro, seria seu desejo de permanecer à frente do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.

DESARRANJO

Nos laboratórios de gestão do Planalto, a idéia de pôr Ciro na Saúde e Jucá na Previdência teria como objetivo melhorar a eficiência de setores que estariam desarranjados administrativamente. Imagina-se que Jucá na Previdência, ex-governador biônico do então território de Roraima, estaria qualificado para cobrir o rombo de R$ 37,8 bilhões. Ciro, por sua vez, segundo a mesma avaliação, exibe um currículo recheado de postos executivos, com boas passagens tanto no plano federal quanto estadual.

Mas como essa é uma reforma que não visa apenas a melhorar a qualidade administrativa do governo - mas, principalmente, garantir a reeleição -, o PP viu-se com musculatura suficiente para ambicionar ministérios de primeira linha com candidatos de segunda. Como resultado criou-se um conflito de expectativas entre o Planalto e o partido. O deputado Pedro Henry (PP-MT) é o favorito do governo para qualquer pasta. A bancada, no entanto, prefere qualquer outro nome. Janene, por exemplo, já pôs o seu à prova. Passou pelo crivo inicial do quarto andar do Planalto, mas foi barrado no terceiro, onde está o gabinete de Lula. "Nós, do PP, já fomos para Esporte, Comunicações, Integração, Agricultura e Pesca. Daqui a pouco nós vamos para ...", desabafou Janene, sem completar a frase.

Em raciocínio inverso ao dos bruxos do Planalto, os cardeais do tucanato trabalham para levar a corrida presidencial até o segundo turno. A idéia central é estimular que, além do PSDB, partidos como PMDB, PFL e PP lancem candidatura própria à sucessão de Lula. A tese estatística é simples: quanto maior o número de concorrentes, maior a chance de empurrar a disputa para dois turnos, o que complica a reeleição de Lula.

Ao fim e ao cabo, o presidente seria submetido a duas eleições completamente diferentes, o que tornaria o segundo mandato menos previsível. É disso que o Planalto quer fugir. Daí porque a reforma ministerial é mais por necessidade político-eleitoral do que uma amarração administrativa em busca de eficiência.