Título: Na prática, Dirceu já é o articulador
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Nacional, p. A7

Ao completar 59 anos, na quarta-feira, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, tem motivos para comemorar: é o operador político do governo na prática. Se depender do PT, partido que presidiu durante oito anos - de 1995 a 2002 -, Dirceu retomará a função de fato e de direito. Com a reforma ministerial, está previsto um novo modelo para a Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais, comandada por Aldo Rebelo, do PC do B. Em qualquer cenário, porém, a reforma que cozinha em banho-maria vai mostrar o ministro fortalecido. Além de suas tarefas de gerente do governo, Dirceu é o homem encarregado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de consultar os partidos para o entra-e-sai na Esplanada dos Ministérios. Divide parte da "missão" com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), mas todas as negociações passam por seu crivo. Disciplinado e acostumado a enfrentar problemas, o lema preferido do chefe da Casa Civil é perfeito para a temporada de incertezas: "Cada dia com sua agonia."

As conversas com o PP do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), têm sido tocadas exclusivamente por Dirceu. É ele que avalia nomes, pretensões, pedidos e ouve reclamações.

No Palácio do Planalto, porém, a reforma empacou mesmo na cadeira de Aldo. Depois de passar mais de meio ano em rota de colisão com Aldo, Dirceu tem dito que não quer retomar o trabalho de articulação com o Legislativo. Agora, defende para a Coordenação Política o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), seu amigo há longa data.

Num jogo de cena combinado, o deputado propõe o retorno de Dirceu. Se João Paulo não fizer dobradinha com o chefe da Casa Civil - seja no quarto andar do Planalto, seja na liderança na Câmara -, é possível que ele assuma um ministério social.

Essa equação tem como pano de fundo o projeto de reeleição de Lula. O PT alega que não pode continuar com o pequeno PC do B a tarefa de negociar com os aliados, principalmente num ano pré-eleitoral.

"Pense bem: é razoável que a articulação política tenha o carimbo do partido majoritário", disse um ministro do PT ao Estado. "O que importa para o PT são os desafios de 2006 e quem vai se relacionar com a base, para a montagem dos acordos nos Estados."