Título: Ana Cavalcanti ganha poder e sonha mais alto
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Nacional, p. A8

Uma das mulheres mais influentes do País, hoje, devido à proximidade com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP), seu pai, a deputada estadual Ana Cavalcanti, 41 anos, casada, mãe de um filho, não tinha a política entre seus planos até 2002. Ela estava feliz e motivada exercendo as atividades de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, com pós-graduação em terapia de mão, quando substituiu a candidatura do irmão Cavalcanti Júnior a deputado estadual, morto em um acidente de carro. Tomou gosto e já trabalha para a reeleição. Nascida em São Paulo, terra de sua mãe, Amélia, vive no Recife desde bebê. Ana Cavalcanti foi uma das defensoras da aprovação da Lei da Biossegurança e assumiu o lobby para aprová-la, apesar da posição contrária do pai. Também foi fundamental na defesa do projeto de lei que permite à gestante a presença de acompanhante durante o parto no Sistema Único de Saúde (SUS).

Sem poder conciliar a profissão com a política, quer usar a nova atividade como instrumento em prol da saúde, educação e cidadania para as mulheres, idosos e portadores de necessidades especiais.

Qual sua formação ideológica? Participou do movimento estudantil, tinha interesse pela política?

Nunca tive militância política, nunca participei de movimento estudantil ou movimento grevista. Nunca tive pretensão de disputar cargo político. Acompanhava a política por estar no meio, mas minha participação era no âmbito da minha formação, no hospital, sempre lutando por melhor qualidade de atendimento para os pacientes.

Direita ou centro?

Meu pai sempre foi conservador, mas vivi na época das diretas já, o que me fez ter outra visão. Sou de centro, até pela minha formação, de sempre analisar os dois lados, buscando o equilíbrio, com uma visão de ponderação. Minha postura como profissional orientou o meu caminho na política.

A senhora defende a reforma agrária? Como vê a luta pela terra e o MST?

O direito à propriedade é de todos, mas me preocupa a condução do movimento. Sou a favor da paz, do diálogo, sou radicalmente contra a violência. Nem a dos camponeses em busca da terra, nem a dos seus donos para manter a propriedade. Acho que podemos buscar modificações pacificamente.

Como se sente como uma das mulheres mais influentes do País?

Devemos, neste momento, identificar qual a colaboração que podemos dar no combate às desigualdades regionais. Eu e meu pai poderemos trabalhar juntos nisso. Ele é um Severino que teve dificuldades na vida, o discurso dele pode não ser dos intelectuais, mas é o daquele que sofreu, que conhece o sofrimento do povo.

Seu pai costuma atender às suas "cutucadas"? É possível controlá-lo nos comícios e discursos?

Em casa, nas conversas, ele ouve bastante, é aberto ao diálogo. Mas naquele discurso (em João Alfredo, no dia 5) ele só quis dizer ao seu povo que continuava o mesmo Severino, que a eleição para a presidência da Câmara não iria modificar o seu comportamento, o acesso dos conterrâneos a ele. Ele é espontâneo, ali não estava preocupado com a imprensa.

Ele deu uma demonstração do político à moda antiga, a senhora concorda com isso?

Infelizmente, com esse contraste de regiões, é muito difícil negar o pão. É importante o Nordeste sobreviver sem assistencialismo, mas enquanto houver disparidades regionais é demagogia negar o assistencialismo.

O governo é assistencialista?

A intenção com o Fome Zero foi resolver a questão emergencial da fome. É preciso combater a desigualdade regional e criar políticas que garantam educação e saúde. (A.L.)