Título: Severino dá poder ao PFL e assusta o governo
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Nacional, p. A8

A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidir a Câmara pelos próximos dois anos deixou o governo Lula totalmente vulnerável na aprovação de projetos de seu interesse. Com 74 anos, um marcapasso e diabético, Severino não tem paciência para presidir as longas e tumultuadas sessões para votar propostas polêmicas e acaba delegando o comando para o pefelista e ex-líder da minoria, José Thomaz Nonô (AL), primeiro vice-presidente da Câmara. Ao contrário de seus antecessores, que eram totalmente afinados com o Planalto e comandavam as votações de interesse do governo com mão-de-ferro, Severino não presidiu nenhuma sessão controversa desde que assumiu a presidência da Câmara, há um mês. Foi assim na aprovação da Lei de Biossegurança, há cerca de dez dias, e na quarta-feira, quando o governo tentou votar emenda à Constituição que altera a reforma da Previdência - a PEC paralela. "Sou presidente da Casa e não de sessão", argumenta. "Pelo perfil do presidente Severino está claro que o Nonô é quem vai comandar as sessões mais complicadas da Câmara", observa o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).

Elogiado pela sua atuação na sessão da Biossegurança, Nonô transformou-se em alvo de críticas por sua performance à frente da votação da PEC paralela. Os aliados acusam o pefelista de agir com "parcialidade" ao ter encerrado abruptamente a votação, antes de ser atingido o quórum de 308 deputados. "Não foi uma medida saudável", reclama o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (RS). "O Nonô se desgastou. Ele não tinha amparo regimental para encerrar a votação. Havia fluxo e faltavam apenas sete deputados para que o quórum fosse atingido. Espero que ele retifique esse erro", reforça o deputado Maurício Rands (PT-PE).

Nonô rebate e garante que agiu com isenção. "Sou um pessoa de critério. A partir de agora, quando estiver na presidência, todas as votações terão 15 minutos de placar aberto. Mas a Casa tem um tendência a anarquia e não gosta de disciplina. Mas vão ter de se enquadrar. Quem viver, verá", diz ele, assegurando que não privilegiou o PFL, que não queria a votação naquele momento. O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) tem outra versão: "Ele terminou a sessão a nosso pedido", vangloria-se. Severino saiu em defesa de seu vice-presidente. "Não vou contestar nenhum ato que ele tenha tomado."

CONFUSÃO

Além de ficarem sob o comando da oposição, as sessões da Câmara também acabam transformando-se em uma enorme confusão por falta de articulação dos líderes da base aliada e de oposição. Os governistas não se entendem no plenário da Câmara nem seguem a orientação do governo.

Na votação da PEC paralela, à exceção do PT, do PC do B e do PSB, os partidos da base se aliaram à oposição e, por pouco, não derrubaram o subteto salarial nos Estados e municípios, previsto na reforma da Previdência. Somente depois de um discurso incisivo do líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), os aliados e a oposição se deram conta da gravidade da votação e voltaram atrás. "A maior demonstração de que não queríamos destruir o subteto foi que mudamos de voto e encaminhamos contra a proposta", defende-se o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).