Título: Número de revalidação é baixo
Autor: Flávio Ilha eLilian Primi e Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Nacional, p. A13

O peruano Dionísio Yaya Chumpitaz chegou ao Brasil em 1987, depois de cursar oito anos de medicina em seu país. Veio para fazer residência em cardiologia e cirurgia torácica. "Na época bastava a indicação de alguém", conta. Ficou três anos como residente na Beneficência Portuguesa e voltou ao Peru. Três meses depois já estava novamente no Brasil. "Só encontrei as bombas do Sendero Luminoso que sacudiam Lima, e nenhum espaço como cardiologista", justifica-se.

Chumpitaz ficou outros três anos como residente na Beneficência antes de conseguir o CRM. "Fui até para Goiânia, mas não deu certo. Consegui na Universidade Fluminense, em Niterói, em 1992, por decisão da reitoria", conta. Para ele, os processos de revalidação funcionam muito mais como uma barreira do que para avaliar o candidato.

A Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), responsável por aplicar os exames de revalidação no Estado, reprovou 133 dos 141 médicos que entraram com processo este ano. No ano passado, de 85 candidatos somente um foi aprovado. A prova é a mesma aplicada para candidatos brasileiros à residência, que tem 60% de aprovação.

"De um grupo de 130 médicos, 80 foram reprovados em 2003. Justamente os que entraram com ação", conta Bruce Osborne, pró-reitor de Graduação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). No ano seguinte a Ufam não aceitou pedidos. E este ano a Universidade recebeu 370 novos processos. "Reprovamos 150 e desconfio que vamos ser processados novamente", prevê Osborne , que diz entender a situação dos reprovados. "Eles se sentem no direito de exercer a profissão, já que estudaram para isso", diz.

O problema é a qualidade do curso que fizeram. Em 2002, o Conselho Federal de Medicina enviou um grupo de conselheiros para conhecer as universidades bolivianas, onde atualmente estudam 8 mil brasileiros, 5 mil deles nos cursos de medicina, segundo o CFM. "Há boas universidades, especialmente as estatais. Mas 90% dos brasileiros estão matriculados nas escolas privadas, muito ruins", diz Alceu José Peixoto Pimentel, um dos conselheiros do grupo e diretor do CFM.

Segundo o relatório do grupo, apenas 11 dos 22 cursos no país são reconhecidos pelo governo. "A maioria dos brasileiros terão diplomas que não são válidos nem na Bolívia. E dificilmente vão conseguir revalidá-los aqui sem uma complementação dos estudos", diz Pimentel. (L.P. e F.I.)