Título: Efeito Requião ameaça agronegócio
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Economia, p. B2

A nova Lei de Biossegurança coloca o governo do Paraná em confronto com uma parcela crescente dos plantadores de soja do Estado. Produtores paranaenses de soja transgênica, alvos de intensa fiscalização nos últimos anos, estão decididos a lutar pela legalização total da sua opção no Paraná. Cooperativas tradicionais de soja não transgênica, como a Agrária, contemplam a possibilidade de experimentar a variedade. E federações e associações de agricultores criticam a política antitransgênico do governador Roberto Requião (PMDB) de forma cada vez mais aberta. O governo estadual, por sua vez, parece decidido a manter a proibição de exportação do grão de soja transgênica pelo Porto de Paranaguá, o que traz preocupações quanto ao escoamento da próxima safra no alto escalão do governo federal.

Eduardo Requião, superintendente do Porto de Paranaguá e irmão do governador, não se intimida diante da possibilidade de intervenção federal. "Se o governo federal achar que não estamos cumprindo (uma eventual diretriz para que haja exportação de transgênico) ele intervém no Porto de Paranaguá, não me incomoda", diz Eduardo Requião ao Estado.

Desde que assumiu o governo, em 2003, Requião trabalhou para tornar o Paraná uma área livre de transgênicos. A estratégia enfrentou ferrenha oposição da minoria de plantadores de soja paranaenses que trabalha com a chamada RR (round-up ready), a variedade transgênica criada pela Monsanto. O conflito transformou-se numa guerrilha judicial e fiscalizatória, que inclui a proibição de embarque do grão transgênico em Paranaguá.

Agora, porém, com a Lei de Biossegurança, que legalizou definitivamente todas as etapas da produção de soja RR no Brasil, a resistência à política antitransgênico de Requião se ampliou e a estratégia do governador parece cada vez mais difícil de ser sustentada.

Na Agrária, a sofisticada cooperativa de descendentes de suábios (alemães) de Guarapuava, que só exporta soja tradicional e com alto grau de confiabilidade, a aprovação da nova lei pôs na ordem do dia a possibilidade de se produzir a variedade transgênica.

"A posição que vamos levar para a próxima assembléia é que, acompanhando o cenário brasileiro, se não lograrmos uma compensação de custos, a Agrária liberará o plantio da soja transgênica", diz Adam Stemmer, superintendente da cooperativa.

Da parte do governo paranaense, não há sinal de recuo. Na segunda-feira, Roberto Requião enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo que vete os artigos da Lei de Biossegurança que tratam dos transgênicos. "O agricultor só vê o próprio umbigo, não tem um horizonte espacial e temporal mais distante", afirma Felisberto Queiroz Batista, diretor do Departamento de Fiscalização e Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura do Paraná.