Título: Acordo com governo pode salvar futuro da empresa
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Economia, p. B12

União é a principal credora, com cerca de 55% das dívidas da Varig, e qualquer solução deve passar pelo seu crivo

Fusão com a TAM, estatização temporária, conversão de dívidas em ações, perdão de 70% das dívidas com a União, intervenção, encontro de contas, solução de mercado. Desde o início do governo Lula, não faltaram projetos para tentar resolver o problema da maior empresa aérea brasileira. No entanto, seu futuro e aquele dos funcionários de todo o grupo continuam incertos. Com o caixa apertado e sem condições de obter crédito na praça, a única solução à vista para a empresa está em convencer o governo a fazer um encontro de contas, compensando as dívidas da empresa com os créditos aos quais ela tem direito a receber como indenização por perdas provocadas por planos econômicos passados - conta que pode chegar a R$ 3 bilhões. Apesar do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, insistir em uma solução de mercado para a empresa, como o governo é o principal credor, com cerca de 55% das dívidas, toda e qualquer solução, inclusive uma eventual falência, terá de passar pelo seu crivo. O PT vive hoje um dilema. Se tentar empurrar a conta da Varig para depois da eleição, a empresa talvez não tenha fôlego financeiro para sobreviver - e o governo Lula ficará marcado por ter deixado uma empresa controlada por trabalhadores, com quase 25 mil empregos, simplesmente quebrar. Por outro lado, avalia-se o custo político de ter de desembolsar alguns bilhões para uma única empresa. Apesar do interesse declarado grupo português Pestana, sem acertar as contas com o governo, dificilmente uma empresa que conta com um passivo de R$ 9,5 bilhões conseguirá fechar um bom negócio. Há duas semanas, o vice-presidente e Ministro da Defesa, José Alencar, sinalizou que o encontro de contas poderia se concretizar durante uma reunião no Superior Tribunal de Justiça comandada pelo presidente do tribunal, ministro Edson Vidigal. Entretanto, o assunto ainda não se desenrolou e, agora, não é mais certo nem se Alencar permanecerá no comando da pasta que controla a aviação após a reforma ministerial prometida para esta semana. Ainda que a relação entre a Varig e o governo tenha se alterado bastante ao longo dos anos, os pensamentos de seu fundador, o alemão Otto Meyer, continuam válidos. Seu Meyer costumava dizer que, por ser uma concessionária de serviço público, os pilares de sustentação da empresa eram três: governo, passageiros e funcionários. Sem resolver o problema da dívida com a União dificilmente a empresa conseguirá se manter no ar. União é a principal credora, com cerca de 55% das dívidas da Varig, e qualquer solução deve passar pelo seu crivo (MB)