Título: Comando da Varig vai para o paredão
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Economia, p. B12

Os funcionários do grupo Varig decidem o destino de sua direção nas próximas duas semanas, em uma votação que coloca em xeque o futuro do atual presidente executivo, Carlos Luiz Martins. A partir de terça-feira, os 165 membros do Colégio Deliberante da Fundação Ruben Berta (controladora da Varig), eleitos diretamente pelos funcionários, votarão em uma consulta via internet pela permanência ou não do atual Conselho de Curadores, grupo de sete colegiados que representam a instância máxima da Fundação e que, em legislação societária, equivale aos acionistas. Ainda que o maior cargo executivo do grupo Varig não seja objeto de votação, como membro do Conselho de Curadores, o futuro de Luiz Martins depende desta consulta. Quando os atuais curadores foram eleitos, em maio de 2003, em uma assembléia extraordinária que destituiu o presidente do conselho Yutaka Imagawa e seu grupo do poder, eles se comprometeram por escrito a promover uma reforma do estatuto da Fundação e em seguida, renunciar a seus cargos para que fosse realizada uma nova eleição em maio deste ano.

Com o agravamento da situação financeira da empresa, que acumula uma dívida de R$ 9,47 bilhões, a reforma do estatuto ficou em segundo plano, juntamente com o discurso de convocar novas eleições. "Tem gente que se agarra ao poder e depois não quer largar o osso", diz um colegiado que prefere não se indentificar.

A reforma do estatuto tinha por objetivo modernizar a gestão do grupo e impedir situações inimagináveis em uma sociedade anônima e que dificultam a gestão da empresa. Por exemplo, o atual presidente da holding FRB Par (braço financeiro da Fundação), Delfim Almeida, é ao mesmo tempo chefe e subordinado de Luiz Martins, que preside uma das empresas controladas. Dentro da empresa Varig, Almeida é diretor regional, em Brasília.

Apesar da inspiração democrática do modelo de fundação, o estatuto favorece o conchavo entre amigos, na medida em que os curadores que se sentem ameaçados por algum dos membros do colégio deliberante (que podem convocar uma assembléia e destituí-los do poder) têm influência ou poder para demiti-lo da empresa.

A votação irá durar nove dias, do dia 15 ao 24, tempo necessário para acomodar as agendas de todos os 165 colegiados - muitos dos quais são comandantes em viagens internacionais. Eles irão responder à seguinte pergunta dos curadores: "Apesar de não termos feito a reforma do estatuto, devemos continuar no poder?"

Com a indefinição sobre o futuro da empresa, é grande a insatisfação com a atual direção. No entanto, o temor de ser demitido da empresa impede um movimento declarado de oposição. Por outro lado, uma nova eleição neste momento delicado de negociações com o governo pode vir a agravar ainda mais a situação.

Luiz Martins é o sétimo executivo a assumir a gestão da Varig nos últimos dez anos. Até meados dos anos 80, a empresa era famosa pela estabilidade de seus presidentes, que ficavam décadas no poder. Naqueles tempos, dizia-se que eles só saiam do cargo para serem conduzidos ao cemitério.