Título: Acabar com a Cracolândia, a obsessão de Matarazzo
Autor: Luiz Maklouf Carvalho
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2005, Metrópole, p. C1

À 1 hora de sexta-feira, a convite do Estado, o subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, responsável direto pela Operação Limpa, fez uma visita à base móvel da Polícia Militar, no coração da Cracolândia. Chegou elegante: Matarazzo estava vindo de um jantar. Conversou com a tenente Catarina e com o capitão Abner, incomodou-se com um bêbado insuportável que, desde cedo, atazanava os policiais. Não gostou da iluminação insuficiente, que prometeu melhorar, e arriscou um passeio curto pela Rua dos Protestantes. "Para o que vi antes, a mudança foi radical." Na entrevista, Matarazzo afirma que o fim da Cracolândia virou uma de suas obsessões. "São Paulo não é casa da mãe Joana, onde cada um faz o que quer", explicou o subprefeito.

Que balanço o senhor faz dos primeiros dias da Operação Limpa?

Já melhorou bem e estamos determinados a continuar. Acabar com a Cracolândia é o meu objetivo, a minha obsessão. Quero que ela troque de nome. Quero deixar de ver criança de 7, 8 anos, fumando crack, assaltando, passando droga. Não é fácil, mas dá para resolver. Não pode ter esse descumprimento da lei nas barbas do poder público e da sociedade o tempo inteiro. Nós temos instrumentos para agir e estamos agindo. O objetivo maior é asfixiar o tráfico, que é o gerador de tudo.

A operação acaba no dia 17. E depois?

A continuidade da operação, a solução efetiva, é o desenvolvimento da região, com investimentos imobiliários e a criação de universidades privadas. Tem gente honesta que trabalha e mora nessa região, que fica absolutamente insegura e prejudicada por essa situação de caos.

O que já há de concreto em relação a novos investimentos na região?

Já temos empreendedores imobiliários interessados em terrenos. O centro da cidade, entre a República e a Sé, tem cerca de 25 mil funcionários públicos trabalhando, o que é um mercado com potencial enorme para o setor imobiliário. Morar aqui passaria a ser um privilégio. É uma região bonita, arborizada, com muito verde, uma grande movimentação cultural e próxima de onde estão todas as secretarias municipais e estaduais.

Os prédios seriam derrubados ou desapropriados?

A forma nós estamos estudando. Seria a aquisição de imóveis. Eu tenho levado muitos grupos de construtores que estão demonstrando interesse. Começam a olhar com outros olhos. Eu sonho com uma universidade, porque a região é um grande centro cultural e a universidade traz jovens, que trazem vitalidade.

Para onde está se transferindo a Cracolândia?

Ela sem dúvida se transferirá, como um vírus. Onde encontrar campo fértil, vai proliferar. Nós temos de ir atrás. A cidade não é casa da mãe Joana, onde cada um vem e faz o que quer, em qualquer lugar. O poder público tem de se fazer presente: manter a área em ordem e estimular a atividade econômica na região.

Mas já foi possível perceber para onde a Cracolândia está se deslocando?

Ainda não tenho isso mapeado. Mas a Baixada do Glicério é outro ponto complicadíssimo.

Quais são as outras ações de curto prazo que o senhor pretende realizar?

O próximo passo é a região do Mercadão. Aquilo está horrível. É uma confusão à noite: caixote, caixa, caminhão, uma bagunça. Essa é a próxima área que nós vamos arrumar.

Essas operações não acabam colocando a poeira debaixo do tapete?

Não estamos botando a poeira embaixo do tapete, até porque nós temos consciência do problema e não estamos escondendo. Ao contrário, estamos disciplinando e combatendo. É diferente. Dizer que vai resolver, a curto prazo, seria muita pretensão. O problema é estrutural, sem dúvida. Mas nós estamos combatendo, indo em cima.

O senhor não se sente como se estivesse enxugando gelo?

Não, porque eu vejo respostas da sociedade. As pessoas estão pedindo isso e é obrigação nossa. Na Cracolândia, você tinha o descumprimento da lei de ponta a ponta. Nossa obrigação é resolver. Para mim, é prioridade, porque é um foco de contaminação de todo o resto.

Qual é a diferença desse filme para os outros, que não deram certo?

A operação integrada, com destaque para a ação social. Quando terminar essa ação mais emergente, vamos manter a ação social, cuidando dos problemas sociais, e a polícia dando segurança, com as ruas limpas e bem iluminadas.