Título: Um ano após crise, Lula e Supremo trocam afagos
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Nacional, p. A4

Desta vez, a paz reinou na participação do presidente Lula na abertura do ano do Judiciário. Ao contrário do ano passado, quando fechou a cara por causa das críticas ao governo dos então presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Maurício Corrêa, e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Nilson Naves, Lula deixou sorridente o plenário da Suprema Corte ontem. Último a falar, lembrou que hoje há um acordo de cooperação entre os Três Poderes. No ano passado, ao participar da cerimônia de abertura dos trabalhos da Justiça, o presidente teve de ouvir os ataques de Corrêa e Naves à proposta de controle externo do Judiciário. Ontem, tanto Lula quanto o atual presidente do STF, Nelson Jobim, e os presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), falaram da reforma do Judiciário. Elogiaram o Congresso por aprová-la depois de 14 anos e em nenhum momento alguém levantou qualquer tipo de restrição ao controle externo do Judiciário.

Ao abrir a sessão solene de retomada dos trabalhos da Justiça, no ano passado, Corrêa disse que a adoção do controle externo transformaria o Judiciário no único Poder da República que passaria a ter órgão específico de fiscalização externa de suas atividades administrativas e financeiras. Lula respondeu a Corrêa, dizendo que a reforma era necessária para o País ter uma Justiça mais ágil e acessível a todos.

Em 3 de junho, quatro meses depois de ouvir as críticas dos dois presidentes de tribunais superiores, Lula foi à posse de Jobim no comando do STF. Ao fazer seu discurso, o presidente do conselho federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, desancou o governo. Disse que o Brasil era um país "inconstitucional", insistindo em que isso ficara claro porque, uma semana antes, a Câmara havia aprovado o aumento do salário mínimo de R$ 260. Na sua opinião, o mínimo nesse valor não garantia a compra dos produtos básicos.

Lula nem precisou responder a Busato na cerimônia. No discurso, Jobim anunciou que a partir de sua posse acabaria a relação conflituosa entre Executivo e Judiciário. "Baixemos as armas, vamos ao diálogo e ao debate democrático", disse. "Só os desalentados se entregam ao discurso e à retórica e não querem enfrentar com lucidez o desenvolvimento da Nação e as melhorias para o avanço e a inclusão que estão sendo feitas por este governo", disse Jobim naquele dia, para alegria de Lula.

Busato assistiu ontem a toda a cerimônia. Ouviu os discursos. Não fez nenhum. Elogiou a fala de Jobim. Disse que, ao pregar "o fim das retaliações com o passado" e pedir ajuste de contas com o futuro, o presidente do STF mostrou que quer uma Justiça ágil, rápida e justa.