Título: Lula rebate críticas de Ruth Cardoso
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Nacional, p. A5

Ao lançar, ontem, o Programa Nacional de Inclusão dos Jovens (ProJovem) e criar a Secretaria da Juventude, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o modo como governos anteriores trataram os jovens e rebateu as críticas feitas pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso ao modo como o atual governo relançou o Projeto Rondon. Na solenidade - que consistiu na assinatura de uma medida provisória, no Palácio do Planalto -, Lula afirmou que "num passado recente" a idade em torno de 20 anos tornou-se "epicentro" da violência no País pela falta de emprego e de políticas voltadas à juventude. Quanto à acusação de que o novo Rondon não facilita a jovens maior interação com as comunidades, Lula declarou que "muita gente" pensa que o Rondon leva jovens para a Amazônia apenas para ensinar, sem trocar experiências com a população. "É verdade que a gente está pegando jovens com uma boa formação e mandando para regiões carentes", disse.

E acrescentou: "Esse jovem vai poder ensinar muita coisa à população de lá, mas certamente vai aprender mais do que ensinar, porque vai ter uma dimensão e saber o quanto heterogêneo é o Brasil, do ponto de vista cultural." Lula afirmou que o jovem passou a andar no "fio da navalha". Destacou que "o total de mortes com armas de fogo nessa faixa cresceu 134% na década de 90" e durante muito tempo "o Brasil tratou a sua juventude como uma terra devoluta, uma fronteira abandonada, esquecida, sem proteção e destino."

HETEROGÊNEO

A antropóloga Ruth Cardoso foi a única personalidade de destaque a criticar publicamente o relançamento do Projeto Rondon, um programa criado em 1967 pelo regime militar e extinto em 1989 que levou 350 mil universitários para os grotões do País.

Em artigo publicado na edição de domingo do Estado, Ruth Cardoso escreveu que o governo do PT surpreendeu "negativamente" ao evitar a avaliação crítica a uma das "marcas" da ditadura e ignorar a experiência de projetos como o Universidade Solidária, idealizado por ela. Para a antropóloga, esse programa prega mais solidariedade que o Rondon, por valorizar os recursos da comunidade.