Título: MST atropela Incra e invade fazenda
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Nacional, p. A9

Cerca de 120 famílias ligadas ao Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram ontem de madrugada a Fazenda Santo Expedito, em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado. A área, de 660 hectares, está sendo negociada com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Os militantes cortaram as cercas e começaram a instalar os barracos próximos da sede. Foi a quarta invasão do MST na região desde a última sexta-feira, dando seqüência ao "2005 vermelho" anunciado pelo movimento. Outras duas fazendas invadidas, a São Camilo, em Presidente Wenceslau, e a Santa Luzia, em Mirante do Paranapanema, também estão em processos de negociação com órgãos da reforma agrária. Segundo o coordenador estadual Clédson Mendes, o MST vem acompanhando as negociações e entrou nas fazendas para evitar que outros movimentos as ocupassem antes. "Aqui no Pontal tem disso, a gente faz o trabalho todo e, quando vai sair a terra, algum outro movimento tenta passar na frente." Foi o que ocorreu, segundo ele, na Fazenda Santa Luzia, de 1,2 mil hectares, invadida na última sexta-feira. A propriedade, segundo o líder, vinha sendo pretendida há anos pelo MST e estava sendo negociada com o órgão federal. O processo de aquisição foi iniciado pela Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), que vistoriou e avaliou a área, encaminhando proposta para o Incra, responsável pelo pagamento.

As benfeitorias, cerca de 30% do valor, seriam pagas em dinheiro e a terra, em Títulos da Dívida Agrária (TDAs) com prazo de cinco anos. "No dia em que fizemos a ocupação, outro grupo, com 20 famílias, também entrou na área." Segundo Mendes, tratava-se de um grupo independente. Os proprietários conseguiram na Justiça a reintegração de posse. Os líderes do MST foram notificados ontem, mas pretendiam negociar a permanência na área por mais tempo. A Fazenda São Camilo também está em negociação, segundo Mendes.

Ele disse que as ações não se restringirão às fazendas que o Incra pode comprar. "Vamos atacar também as terras devolutas." Ele anunciou novas ações este mês.

A superintendência do Incra em São Paulo confirmou o interesse nas três fazendas, mas se negou a fornecer mais informações para "preservar as negociações".

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, considerou "muita coincidência" a invasão de fazendas com propostas de compra pelo governo. Ele acha que pode ser uma forma de pressionar os donos a aceitarem o negócio.

Segundo o Incra, as áreas são particulares e sobre elas não se aplica a medida provisória que impede a vistoria em terras invadidas.