Título: Partidos negociam para montar coalizão xiita
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Internacional, p. A12

Os votos ainda estão sendo contados, mas as difíceis barganhas para formar uma novo governo iraquiano já começaram. Menos de um dia depois que milhões de iraquianos afluíram aos postos de votação, os líderes dos maiores partidos políticos do país disseram que estão se aproximando de possíveis aliados no que quase certamente deve ser uma coalizão de governo. Entre rivais, os candidatos assinalaram que as linhas de batalha já foram traçadas. A disputa mais provável , dizem os líderes políticos daqui, lançará a maior coalizão de partidos xiitas, a Aliança Unida Iraquiana (AUI), contra um grupo liderado pelo primeiro-ministro interino, Iyad Allawi. A luta, além de estabelecer a composição do próximo governo, levantará questões fundamentais sobre a natureza da nova ordem política. O mais importante para eles, dizem esses líderes políticos daqui, será o papel do islamismo no governo e a influência que terão os EUA e o Irã.

Na segunda-feira, Allawi, xiita secular e aliado dos EUA, Unidos, apareceu na TV e se ofereceu como líder que poderá manter unido o país fracionado. O discurso pareceu um desafio direto à AUI, que tende a conquistar a maioria dos votos. Grande parte da popularidade do partido se deve ao apoio do mais influente clérigo xiita iraquiano, o grão-aiatolá Ali al-Sistani.

"Está na hora de deixar para trás as divisões do passado e trabalhar em conjunto para mostrar ao mundo o poder e o potencial deste grande país", disse Allawi. "O mundo inteiro está nos observando".

O discurso despertou imediatamente a atenção de líderes xiitas, que estão preocupados com que sua coalizão, ampliando-se, possa vir a ser corroída por um político agressivo e astuto.

Dos 228 candidatos da AUI, metade não é filiada a um partido, e os líderes da coalizão temem que esses candidatos independentes possam facilmente ser atraídos por promessas de outros líderes políticos.

Os líderes xiitas reconhecem a fragilidade da sua coalizão. "Sim, estamos preocupados com que a coalizão possa se romper", disse Ali Faiçal, do Partido de Deus, que faz parte da coalizão xiita. "Mas não achamos que vá se romper por causa de Allawi".

Líderes xiitas dizem estar confiantes em que a AUI acabará sendo a líder de votos, mesmo que não arrebanhe uma maioria inequívoca na nova Assembléia Nacional.

A aliança, dominada pelos maiores partidos xiitas, o Dawa e o Conselho Suprema da República Islâmica do Iraque, tem declarado seu compromisso com um Estado secular. Apesar de suas raízes religiosas, menos de meia dúzia dos 228 candidatos que lançaram são clérigos.