Título: Retirada de tropas agora é 'total absurdo', afirma presidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Internacional, p. A12

O presidente interino do Iraque, Ghazi al-Yawer, declarou ontem que seria um "total absurdo" pedir que as tropas dos EUA e de outros países deixem o Iraque "neste momento", mas ressalvou que parte dos 170 mil soldados estrangeiros poderia partir por volta do fim do ano. "É apenas um total absurdo pedir que as tropas saiam em meio a este caos e vazio de poder", disse Yawer, enfatizando que isso só deveria acontecer depois que as forças iraquianas estiverem estruturadas, a segurança tiver melhorado e "bolsões de terroristas" forem eliminados. Membro da minoria árabe sunita, Yawer tem criticado com freqüência alguns aspectos das ações dos EUA no Iraque, incluindo o cerco a Faluja.

"Houve alguns erros na ocupação, mas para ser justo acho que no conjunto a contribuição das forças estrangeiras no Iraque foi positiva. Valeu a pena." Ele disse que as tropas foram "convidadas a permanecer" no país depois que os EUA transferiram, em junho, soberania parcial ao governo interino. Admitiu, porém, que a presença delas também "é parte do problema. Agora estamos tentando tê-las como parte da solução."

Yawer insistiu que o clérigo radical xiita Muqtada al-Sadr e os partidos sunitas que boicotaram as eleições participem da redação da Constituição pela Assembléia Nacional, eleita no domingo.

Ontem a Comissão Eleitoral começou a computar, em Bagdá, os votos vindos de mais de 5 mil colégios eleitorais no país. A previsão é de divulgação do resultado na semana que vem. Ao comentar a eleição, Yawer afirmou que dezenas de milhares de eleitores não puderam votar em Bagdá, Basra e Najaf porque não havia cédulas suficientes. Funcionários eleitorais admitem que houve falhas no processo em algumas áreas, incluindo Mossul.

Como os xiitas são maioria e foram maciçamente às urnas, a expectativa é que a principal coalizão dessa comunidade, a Aliança Unida Iraquiana, conquiste a maioria das 275 cadeiras. Líderes da aliança declararam ter obtido vitória esmagadora e disseram que vão buscar co consenso.

A maioria dos grupos sunitas resiste ao diálogo. Raad al-Hamadani, secretário-geral do Conselho de Tribos Iraquianas, disse que as eleições foram ilegítimas porque resultaram de imposição da ocupação. O cronograma para a democratização prevê que a Constituição seja aprovada por dois terços dos eleitores das 18 províncias. Um veto nas áreas de maioria sunita inviabilizaria o processo.