Título: Negócios foram fechados com o dólar a R$ 2,85
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Economia, p. B1

Os excelentes resultados da balança comercial não refletem a atual cotação do dólar, afirmam economistas. Segundo analistas, a maioria dos produtos embarcados em janeiro, que constam dos números da balança, foi vendida há mais de quatro meses, quando o dólar estava cotado acima de R$ 2,85. "Tem muita gente que vai dizer: olha, continuam exportando bem mesmo com o dólar baixo", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Mas esses produtos embarcados em janeiro foram vendidos no fim do primeiro semestre e começo do segundo, no ano passado, quando o dólar estava em R$ 2,90." Para Castro, as conseqüências do dólar baixo vão começar a aparecer na balança comercial de março ou abril.

Segundo cálculos do JP Morgan, o dólar em R$ 2,70, pouco acima da cotação atual, não está muito baixo. "Considerando uma cesta de moedas deflacionada, o real está em seu valor justo, que é compatível com um aumento de exportações e um pequeno déficit em conta corrente", diz Júlio Callegari, economista do banco JP Morgan.

Mas, em R$ 2,61, o dólar certamente vai afetar os resultados da balança, diz o economista. "A queda do saldo comercial é inevitável", afirma Callegari. "A partir de abril, a importação tende a crescer cada vez mais por causa do aquecimento do mercado interno e da valorização do câmbio."

O JP Morgan projeta para este ano US$ 105,2 bilhões de exportações (mais 9%), US$ 78,3 bilhões de importações (mais 24%) e superávit de US$ 26,8 bilhões (menos 20%).

Callegari não acredita que o dólar se manterá no patamar de R$ 2,60 por muito tempo. Segundo o economista, o real está valorizado por causa da grande liquidez internacional e dos altos juros no Brasil. Mas esses fatores, segundo ele, vão mudar.

"O Fed vai continuar elevando os juros nos Estados Unidos por muitos meses, o que deve conter a fuga de investidores do dólar, enxugando a liquidez", diz. "E, no Brasil, vai acabar essa história de só elevar os juros."