Título: Indústria automobilística tem o pior janeiro desde 2000
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Economia, p. B6

A indústria automobilística iniciou 2005 com o pior resultado em vendas para um mês de janeiro desde 2000. Naquele período foram comercializados 89,2 mil veículos. No mês passado foram 106,7 mil unidades, volume 0,65% inferior ao de janeiro do ano passado. Já na comparação com dezembro, quando o setor obteve uma das suas melhores marcas mensais, os negócios com automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus despencaram 40%. Janeiro normalmente não é um período forte para o mercado de carros, por causa das férias. A desaceleração das vendas ocorreu depois de o setor ter registrado recorde de produção em 2004, com 2,2 milhões de veículos e o melhor resultado em vendas dos últimos três anos (1,57 milhão de carros).

Só no segmento de automóveis e comerciais leves foram comercializados em janeiro 99,7 mil unidades, 1,4% a menos que em igual período do ano passado e 40,7% inferior aos resultados de dezembro.

Entre as montadoras, a queda maior foi registrada pela General Motors, que em 2004 obteve a liderança em vendas pela primeira vez em 80 anos de Brasil. Em janeiro, a marca vendeu apenas 15.808 veículos, ficando em quarto lugar no ranking do mercado nacional, atrás da Ford, cujas vendas totalizaram 16.482 unidades, incluindo caminhões, segmento em que a concorrente não atua.

Em dezembro, a GM comemorou um dos seus melhores desempenhos mensais, com vendas de 44,5 mil automóveis e comerciais leves. No mês passado, os negócios foram 64,5% menores, porcentual bem acima das principais montadoras. A Ford registrou queda de 24,2% nas vendas, enquanto a Volkswagen teve desempenho 25,1% menor, com 28.909 veículos vendidos. Com esse volume, a marca alemã ficou em primeiro lugar no mercado brasileiro, posição que havia ocupado pela última vez justamente em janeiro de 2004.

Segundo concessionárias, a GM passou os últimos três meses de 2004 com campanhas agressivas de vendas e feirões a cada dois finais de semana. Em janeiro, o fôlego esgotou-se, justificou o diretor de uma grande revenda da marca. Ainda assim, no último fim de semana a empresa realizou feirão na fábrica de São Caetano do Sul (SP), uma ação pouco adotada em início de ano.

Os números de vendas são baseados em licenciamentos feitos pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Em 2003, na disputa travada entre GM e Fiat pela liderança do mercado, muitos carros foram emplacados pelos próprios concessionários e depois revendidos como 'usados', pois na documentação o consumidor aparecia como segundo dono. A medida pode ter sido usada no ano passado, segundo avaliação de alguns concessionários, mas em menor escala.

Em janeiro do ano passado, a Fiat, que em 2003 garantiu a liderança no mercado pelo terceiro ano, viveu situação similar à da GM. Suas vendas caíram 54,3% naquele período comparado a dezembro do ano anterior. No mês passado, a marca italiana - que fechou 2004 em segundo lugar no mercado -, vendeu 24.685 automóveis e comerciais leves, 36,3% a menos que em dezembro.

Entre os carros mais vendidos em janeiro, as surpresas foram o Uno Mille e Fox. O modelo da Fiat, no mercado há 20 anos, foi o terceiro na preferência dos consumidores, com 6.604 unidades vendidas. Já o novato Volkswagen Fox, lançado no fim de 2003, ficou em quarto lugar pela primeira vez, com 6.285 unidades, desbancando Corsa e Celta.

A liderança continuou com o Gol, que teve 13.367 unidades vendidas, seguido de longe pelo Palio, com 7,8 mil. Na sexta-feira, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgará o balanço completo do setor em janeiro, com dados de produção e vendas externas.

EXPORTAÇÕES

Além de registrarem recorde de exportações no ano passado, as montadoras conseguiram resultados superavitários na balança comercial, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Só a Volkswagen fechou o ano com saldo positivo de US$ 1,092 bilhão. A empresa, maior exportadora do setor e quinta maior do País, vendeu no exterior US$ 1,54 bilhão em carros e componentes.

A General Motors exportou o equivalente a US$ 1,33 bilhão e conseguiu superávit de US$ 806,9 milhões. Já a Ford, com US$ 1,1 bilhão em vendas externas, teve saldo positivo de US$ 604,6 milhões.