Título: Embratel fecha no vermelho em 2004
Autor: Mônica CiarelliColaborou: Regina Cardeal
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2005, Economia, p. B14

O primeiro balanço da Embratel após a mexicana Telmex ter assumido o controle da empresa fechou no vermelho. A operadora brasileira anunciou ontem prejuízo de R$ 339,3 milhões em 2004, resultado bem inferior ao lucro de R$ 223,6 milhões apurado no mesmo período do ano anterior. A forte concorrência no segmento de telefonia de longa distância e as provisões de R$ 477 milhões para contingências fiscais, trabalhistas e civis explicam o desempenho mais fraco no ano passado. Uma limpeza no balanço da operadora já era esperada por analistas financeiros, que só tinham dúvidas para calcular de quanto seriam as provisões. Até setembro, a empresa tinha cerca de R$ 2 bilhões contingenciados, a maioria de questões fiscais. Analistas reclamaram que os executivos da Embratel não deram nenhuma pista, o que dificultou o trabalho.

O valor de R$ 477 milhões ajudou a encolher a geração de caixa da companhia, que caiu 23%, para R$ 1,4 bilhão. No mesmo período do ano passado, somava R$ 1,8 bilhão. Apesar da maior concorrência em longa distância, o faturamento cresceu 4,1% no período, para R$ 7, 3 bilhões. Isso porque houve aumento na receita com telefonia local. A aquisição da Vésper em meados de 2004 fez a receita crescer 351,9%, para R$ 608 milhões.

Já o tráfego de longa distância rendeu um faturamento de R$ 4,8 bilhões, uma queda de 2,6% ante o ano anterior. A forte concorrência influenciou o desempenho da companhia. A maior perda, de 10,2%, foi nas chamadas internacionais. A receita caiu de R$ 856,6 milhões em 2003 para R$ 768,9 milhões no ano passado. Com os interurbanos, a Embratel obteve receita de R$ 4,012 bilhões, inferior em 1% à de igual período do ano anterior.

Para o banco de investimentos Morgan Stanley, a receita de R$ 1,859 bilhão no quarto trimestre ficou 2,9% acima do esperado. Já o Ebitda (lucro antes de juros, investimentos, depreciações e amortizações) de R$ 337 milhões ficou 6,8% abaixo da previsão do banco, diz, em relatório, o analista Mario Epelbaum.

Ele afirma que a receita surpreendeu pelo sólido desempenho da área de longa distância e pela recuperação na área de dados. O analista recomenda que os investidores acompanhem o processo de subscrição da Embratel. O tamanho da oferta e o fato de não estar sendo ativamente divulgada poderão pressionar o preço dos papéis da Embratel, cuja queda seria uma boa oportunidade de compra.

Já o analista Maurício Fernandes, da Merrill Lynch, informou que a direção da Embratel anunciou pela primeira vez um plano de investir R$ 1,4 bilhão em 2005, 80% acima dos R$ 780 milhões que o Merrill Lynch projetava em seu modelo de análise da empresa. Segundo ele, o prejuízo de US$ 1,16 por ADR foi bem pior do que o previsto (lucro de US$ 0,18 por ADR), sobretudo por causa de perdas de cerca de R$ 200 milhões no câmbio, decorrentes da valorização do real.

O analista reiterou a recomendação de venda para os papéis de Embratel que, segundo ele, apresentam o maior risco para os lucros no setor. Com 65% da receita da empresa vindo de longa distância, Fernandes não espera um aumento significativo nas margens por causa do ambiente de intensa concorrência. Mas a ação PN da Embratel valorizou-se ontem 2,70%, já que o mercado esperava um prejuízo maior da empresa.