Título: Nem 'retratação' de Vandré escapou da tesoura
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Nacional, p. A4

Entre as letras proibidas que o Arquivo Nacional está catalogando há composições de Gonzaguinha, Geraldo Vandré, Aldir Blanc, Paulo Sérgio e Marcos Valle e forrós com letras de duplo sentido. Pátria Amada, Idolatrada, Salve, Salve, de Geraldo Vandré e Manoel Thiago de Mello, foi considerada "uma retratação" pela então censora Odette Martins Lanziotti. Mas nem assim a letra foi aprovada. Odette vetou por "trazer como título um dos versos do Hino Nacional numa canção não-cívica". Vandré gravou a música, com o título Pátria Amada, na Venezuela. Longe de uma retratação, o tema central é o exílio: "se é pra dizer adeus / pra não te ver jamais/ eu que dos filhos teus/ fui te querer demais/ no verso que hoje chora/ pra me fazer capaz/ da dor que me devora/ quero dizer-te mais/ que além de adeus agora/ eu te prometo em paz/ levar comigo afora/ o amor demais".

Nem a dupla Roberto e Erasmo Carlos escapou. Eles tiveram vetada a música Editora Maio, Bom Dia, em 27 de abril de 1971, "pelo entendimento dúbio e tendencioso da letra", que diz: "honestidade, vá embora daqui/ nós não falamos com você, nem a pau/ criamos fatos da imaginação/ onde a verdade não existe em geral".

Também de autoria de Roberto e Erasmo, a censura não gostou de Vida Blue. Em 25 de junho de 1974, a técnica de censura Marina Brum Duarte citou termos "chulos" e gírias, mas não gostou mesmo da referência ao Esquadrão da Morte, nos versos "arrependido não foi salvação/ foi executado pelo esquadrão". Para a censora, tratava-se de "história de marginal e crítica social depreciativa à autoridade policial". Em 2002, Erasmo resgatou a composição até então inédita e gravou Vida Blue no CD duplo Erasmo Carlos ao Vivo.

TEATRO

Quando as letras de músicas estiverem todas catalogadas, o público poderá escolher o material que quiser pesquisar consultando um índice de todas as composições disponíveis. Hoje, dois livros já resumem o material sobre as peças teatrais. A pasta referente à peça Opinião, de Oduvaldo Vianna Filho, por exemplo, mostra páginas quase inteiras cortadas.

No caso de Gota d'Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes, um dos trechos marcados pela censura traz o aviso: "Não falar, incluindo presidente da nação". O texto dizia: "Sentado está Deus Pai, o presidente da nação, o dono do mundo e o chefe da repartição". Hair foi liberada com vários cortes mas em junho de 1970 o censor Hyldon Rocha diz que os vetos não foram cumpridos na estréia. E observa: "O que não poderá acontecer se não forem tomadas as providências regulamentares"?