Título: Reserva ocupa uma área semelhante à da Holanda
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Vida &, p. A15

Não importa de que maneira você olhe, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque é grandioso. No mapa, ocupa quase um terço do Amapá, em uma área equivalente à da Holanda. Visto do alto, pela janela de um helicóptero, suas florestas se espalham até tocar o horizonte por centenas e centenas de quilômetros. E para aqueles que têm a sorte de caminhar por entre suas árvores a sensação é a de um ambiente absolutamente selvagem, ao mesmo tempo magnífico e assustador. "Pela primeira vez na minha vida tenho a sensação de estar em um ecossistema realmente primitivo, totalmente inalterado", deslumbra-se o chefe do parque, Christoph Jaster, do Ibama, diante da magnitude da selva que está incumbido de proteger. "É espetacular. Temos de defender isto aqui."

Criado em agosto de 2002, com 38.867 quilômetros quadrados, o Tumucumaque é o maior parque nacional de floresta tropical do mundo. Para colocar uma cerca em torno dele, seriam necessários 1.750 quilômetros de arame. "E isso representa apenas 1% da floresta amazônica", aponta o geógrafo e subchefe do parque, Cristiano Ferreira. A origem do nome Tumucumaque ninguém sabe explicar. Seu grande diferencial são os pontões rochosos que brotam do interior da floresta, conhecidos como inselbergs - ou "pães-de-açúcar", na linguagem mais popular.

A expedição científica foi dirigida justamente para a área de maior concentração desses pontões, no extremo oeste. Enquanto os pesquisadores faziam o levantamento de biodiversidade, a equipe do parque aproveitava para fazer o reconhecimento visual e mapeamento por GPS da região. Todas as informações serão usadas na elaboração do plano de manejo da unidade, previsto para ser entregue este ano. A idéia é abrir o parque para visitação pública em 2006.

A equipe do Ibama responsável pelo Tumucumaque soma só cinco pessoas. O isolamento e a falta de grandes concentrações urbanas nas proximidades, porém, acabam facilitando a fiscalização. Em sua maior parte, o parque está praticamente intocado, a não ser por uma minúscula comunidade às margens do Rio Oiapoque e focos isolados de garimpo. O Ibama já identificou 25 pistas de pouso clandestinas, mas acredita que menos de 10 estejam ativas. "Temos uma feliz situação em que os mecanismos de proteção estão chegando antes da interferência humana", afirma Jaster, alemão naturalizado brasileiro que foi consultor ambiental no Paraná. "Normalmente ocorre o contrário. No Sudeste, é sempre um último apelo para salvar o que sobrou."