Título: Comemorações visam a motivar interesse pela Física
Autor: Dennis Overbye
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Vida &, p. A16

Motivar os jovens e despertar seu interesse para a Física, mostrar a importância da Ciência e diminuir o analfabetismo científico no País. Esses são os pontos centrais das comemorações do Ano Internacional da Física (World Year of Physics - WYP2005) no Brasil. Ao longo de todo o ano, haverá simpósios, exposições, lançamentos de livros, publicação de artigos e edições especiais de revistas especializadas e outras atividades em escolas, universidades e instituições de pesquisa. Para ajudar no custeio das comemorações, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) liberou R$ 1 milhão. O primeiro evento do WYP2005 no Brasil foi o Simpósio Nacional de Ensino de Física (Snef), realizado no Rio na semana passada e do qual participou o Nobel de Física de 1998, o austríaco naturalizado americano Walter Kohn (leia entrevista à pág. A17). Entre as questões discutidas no evento esteve a renovação e o aumento do ensino de Física no País. "Hoje as escolas públicas só têm duas horas de aula de Física por semana", diz Adalberto Fazzio, presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), entidade que coordena as comemorações. "É preciso mudar isso."

Como parte dos esforços para atingir esse objetivo, a SBF está organizando e vai lançar a série de livros Física Moderna e Contemporânea. "São dez livros destinados a professores do ensino médio, com temas atuais das pesquisas em Física, junto com propostas metodológicas para a sua inserção nas suas aulas", explica Fazzio. "Os primeiros títulos foram lançados na semana passada, no Snef."

No mesmo evento foi lançado outro livro, Física para o Brasil, que não faz parte da série. A obra traça um panorama da Física contemporânea no Brasil e no mundo. "É uma área do conhecimento que está passando por um momento de grandes atividades e descobertas", diz Fazzio. "Mas o livro não se limita a falar disso. Também apresenta propostas para uma política científica para o País."

PREVISÕES

Ainda na área de publicações, haverá edições especiais das revistas Brasileira de Ensino de Física e Física na Escola, editadas pela SBF, e Ciência & Ambiente, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com textos sobre os trabalhos de Albert Einstein, cuja Teoria da Relatividade Restrita (ver exemplo no quadro) está completando 100 anos e motivou a instituição do WYP2005.

As comemorações se completam com uma exposição itinerante sobre a história da Física no Brasil e no mundo, que vai percorrer o País, e as discussões que ocorrerão na 57.ª Reunião Anual da Associação Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que será realizada em Fortaleza de 17 a 22 de julho. Durante o encontro, a SBF vai aproveitar para realizar um encontro de físicos em Sobral, no interior do Ceará.

A escolha dessa cidade não é aleatória. Foi nela que uma das previsões feitas por Einstein foi confirmada.

O grande físico havia previsto, em 1916, que a luz de estrelas distantes sofreriam um desvio ao passar pelo Sol a caminho da Terra. Esse desvio não se dá por nenhuma atração, mas por causa da curvatura do espaço nas imediações do Sol, descrita na Teoria da Relatividade Geral, publicada em 1916. Segundo ela, a massa dos corpos curva o espaço.

Para entender isso, a grosso modo, basta imaginar uma mesa com tampo elástico e uma bola pesada em cima. Onde está a bola, afunda. Outros corpos jogados ali vão rolar para a bola. É assim que Einstein explica a gravidade e não como Newton pela atração de matéria por matéria. Na verdade, então, a luz das estrelas distantes não é atraída pelo Sol, ela apenas segue a curvatura do espaço causada por ele.

De qualquer forma, esse desvio só poderia ser observado durante um eclipse total do Sol. Foi o que ocorreu em 29 de maio de 1919. Um dos locais onde o fenômeno poderia ser visto era Sobral. O astrônomo inglês Arthur Eddington, defensor das idéias de Einstein, convenceu o governo britânico a financiar duas expedições para observar o eclipse, uma para a cidade cearense e outra para a Ilha de Príncipe, na África, esta chefiada por ele próprio.

Para azar de Eddington, o tempo não estava bom na ilha africana e só foi possível tirar duas fotos de baixa qualidade. Com céu claro, em Sobral foram batidas sete. Todas confirmaram a previsão de Einstein. Os resultados foram apresentados pelo idealizador das expedições na Sociedade Real de Londres, em 6 de novembro de 1919, publicados no dia seguinte no Times e repercutidos em seguida por jornais do mundo todo. Resultado: Einstein se transformou num superstar da ciência, tornando-se conhecido em todo o mundo.

Seis anos depois, em 1925, o famoso cientista deu mostras de não ter esquecido o papel de Sobral e do Brasil no reconhecimento de suas teorias. Em 21 de março, numa parada no Rio, a caminho de Buenos Aires, ele comentou por escrito para um jornalista: "O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil."

Depois de uma passagem pela Argentina e pelo Uruguai, Einstein voltou ao Rio em 4 de maio, onde permaneceu até o dia 12.

Nesse período, deu palestras e participou de conferências, encontros e homenagens. Estranhou o excesso de bajulação e registrou em seu diário um certo desagrado com a balbúrdia dos encontros de que participou: "Às 16 horas, primeira conferência no Clube de Engenharia em um auditório lotado, com barulho da rua. As janelas estavam abertas. A acústica não permitia o entendimento. Pouco científico."