Título: A mais famosa teoria faz 100 anos
Autor: Dennis Overbye
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Vida &, p. A16

"O que você está tramando, sua baleia congelada, sua alma defumada, seca e enlatada?" Foi assim que Albert Einstein, então um funcionário de 26 anos do Departamento de Patentes em Berna, Suíça, começou uma carta para seu amigo Conrad Habicht na primavera de 1905. Seja o que for que Habicht, um professor de matemática em Schaffhausen, Suíça, estivesse tramando, não era nada em comparação com seu irreverente amigo, que vinha alterando os fundamentos da Física durante as poucas horas livres de que dispunha na qualidade de jovem pai, marido e funcionário do governo. Como relatou para Habicht, Einstein tinha acabado de escrever três importantes ensaios sobre Física.

Um mostrava como a existência dos átomos, ainda uma proposição em debate, podia ser comprovada avaliando o vaivém de partículas microscópicas num copo de água, um processo conhecido como movimento browniano. Num outro, sua dissertação de doutorado para a Universidade de Zurique, ele inferiu o tamanho das moléculas. Num terceiro, que descreveu como "muito revolucionário", Einstein argumentou que a luz se comportava como se fosse composta de partículas em vez de ondas, como pensava a maioria dos físicos.

Esse ensaio, com o qual ele ganhou o Prêmio Nobel de 1921, ajudou a lançar os fundamentos da Teoria Quantum, uma descrição estatística paradoxal da natureza sobre as menores escalas subatômicas, que ele mesmo rejeitou mais tarde, dizendo que Deus não jogava dados com o universo.

RASCUNHO

Mas ele não tinha acabado. Havia um quarto ensaio, contou ele a Habicht, ainda um rascunho que usava "uma modificação da teoria do espaço e do tempo".

Isso era, é claro, a Relatividade, a teoria que estabeleceu a velocidade da luz como o limite universal de velocidade e libertou o espaço e o tempo da sua rigidez newtoniana, permitindo-lhes respirar, expandir-se, contrair-se e curvar-se e levou ao universo em expansão e ao casamento apocalíptico entre a energia e a massa na famosa equação E = mc2.

Qualquer um desses ensaios teria feito a reputação e até mesmo a carreira de um jovem. Juntos, eles resultaram num "ano milagroso" para o jovem físico, uma reformulação na Física no início de um século ainda jovem.

Em abril deste ano, faz 50 anos da morte de Einstein, mas ele ainda é o cientista cuja foto é mais provável de ser encontrada na primeira página de um jornal, talvez sua famosa imagem pondo a língua para fora.

Ainda é o universo de Einstein e, em honra de seu "ano milagroso" de 1905, físicos, universidades e entidades governamentais organizaram uma série de comemorações, conferências, livros, concertos, debates, sites na web, palestras, jogos e um controvertido espetáculo intercontinental de luzes.

TUFÃO

Como disse Gerald Holton, professor de Física e História da Ciência em Harvard que é o decano dos estudiosos de Einstein: "Há um tufão vindo na nossa direção." Ele disse isso pouco antes de rumar para Berlim para fazer o discurso principal na conferência da semana passada denominada Einstein para o Século 21 - a primeira das muitas paradas no seu itinerário este ano.

O Ano Internacional da Física, como 2005 foi designado pela Organização das Nações Unidas (ONU), já teve seus momentos surpreendentes de brincadeiras com a Física e mais virão. Este mês, Ben Wallace, de 18 anos, um ciclista dublê profissional, voou de uma rampa no Museu de Ciências de Londres e deu um salto de 3,50 metros no ar enquanto dobrava a bicicleta lateralmente - uma manobra projetada por um físico de Cambridge que disse ter sido inspirada numa história de que o Einstein de 26 anos tinha inventado sua teoria enquanto andava de bicicleta.

Não importa se não existam indícios de que Einstein tenha tido uma bicicleta quando jovem. Não importa se o próprio "salto de Einstein", complicado e cuidadosamente planejado como foi, conte estritamente com as leis antiquadas de Isaac Newton.

Se ciclistas dublês não são os seus favoritos, talvez você goste de Constant Speed, um balé inspirado na relatividade que a Rambert Dance Company vai apresentar em Londres a partir de 24 de maio.

Talvez você queira baixar o rap Einstein (Not Enough Time), do DJ Vader, adotada pelo Instituto de Física da Grã-Bretanha para um jogo de computador educacional, ou o protetor de tela Einstein @ Home, que permitirá que seu computador processe sinais do cosmo das contrações e vibrações de tempo-espaço conhecidas como ondas gravitacionais.

Ou talvez lhe interesse participar do concurso do Pirelli Group para escolher a melhor explicação da relatividade multimídia em cinco minutos, cujo prêmio é de 25 mil - cerca de R$ 89 mil.

RELEVÂNCIA

O objetivo de tudo isso, admitem os físicos, não é glorificar Einstein, mesmo porque ele não precisa disso, mas promover a Física e incutir sua importância e relevância nos jovens que vêm se desviando para outras buscas muito embora ela se torne cada vez mais essencial para lidar com problemas como mudanças climáticas, proliferação nuclear, uma crise de energia que se apresenta no horizonte e a defesa contra mísseis.

"As grandes contribuições da Física para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e seu impacto sobre nossa sociedade talvez ainda seja evidente para nós, físicos, mas não é mais para todos", disse Martial Ducloy, um físico da Universidade de Paris, numa mensagem por e-mail. E ele observou que o número de alunos de Física diminuiu drasticamente no mundo inteiro.