Título: Moda também é seguida por adeptos mais humildes, diz locutor de rodeios
Autor: Simone Iwasso, Cláudia Ferraz
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Vida &, p. A18

Mascar fumo não é uma moda restrita a grupos de jovens ricos que gostam do estilo country. Quem assegura isso é o locutor de rodeios Paulo Billy, de 24 anos, que não é rico, tem origem humilde e há seis anos masca fumo. "Basta gostar de usar bota e calça apertada. E o mais comum, pelo que observei em vários rodeios, é que os mais humildes também mascam", diz. "Quem não tem condições de comprar o fumo preparado pega um de corda, já picotado, tempera com mel e outras coisas, e o sabor fica quase o mesmo", complementa. Paulo Billy mora em Barretos, a cidade que tem a festa mais tradicional de peão de boiadeiro do País, no interior de São Paulo. Narra rodeios em três Estados há nove anos e diz que sempre gostou do campo. "Os personagens dos filmes de faroeste me inspiraram, já que mascar fumo é uma característica do caubói americano", emenda o locutor.

Ele recorda, no entanto, que a impressão ao mascar pela primeira vez "foi triste". "Comecei no mais 'doído'", diz, referindo-se ao fumo mais forte. Apesar do impacto nada agradável, criou o hábito de mascar. E não deve mudar, já que, em bailões que freqüenta, encontra muitos adeptos do estilo - e não são apenas ricos.

À MODA CAIPIRA

O hábito não é só de adeptos do estilo country. Dizendo-se um defensor dos costumes caipiras, o empresário Wendel Alves da Silva, de 31 anos, começou a mascar fumo e consumir cigarro de palha aos 17. "Mascar fumo é como fazer uma assepsia na boca. O fumo cura machucados e ajuda a manter os dentes limpos", acredita. A fé nos costumes caipiras é tanta que ele montou dois bares "camponeses" em Campinas, para vender cachaça, fumo, cigarro de palha e exibir violeiros tocando música regional.

De chapéu de couro na cabeça, calça folgada e botina nos pés, o empresário apressa-se em explicar que não tem relação com country americano. Enfatiza que se enquadra no estilo caipira brasileiro. "Caubói usa calça justa, fivela no cinto, camisa bordada e chapéu de feltro."

Wendel comenta que o inconveniente de mascar fumo é que a primeira borra que se forma na boca precisa ser descartada. "Não dá para sair cuspindo em qualquer lugar por aí", aponta. O nacionalismo é tanto que Wendel só vende produto brasileiro. "Refrigerantes, só os que são produzidos aqui", diz. Para enrolar cigarros de fumo de corda, por exemplo, só fornece palha. "O consumo tem aumentado mês a mês", conta o empresário, fã de uma boa festa de peão.