Título: Partido nacionalista desafia radicais e faz campanha nas ruas
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Especial, p. H2

Na frente da sede regional de Bagdá do Partido da Pátria Iraquiana, militantes desafiam a ameaça dos grupos insurgentes e param os carros na rua para distribuir jornais e panfletos. A sede partidária é um casarão num dos bairros da antiga classe média alta da cidade. O imóvel, imponente, tem salas amplas, pé-direito alto e o chão coberto por um carpete velho, impregnado com a poeira do deserto. Não há móveis em quase nenhum cômodo. Ninguém do partido confirmou, mas, aparentemente, a casa foi uma das saqueadas pela população após a queda do regime de Saddam Hussein.

O partido é um dos mais de cem que disputam a eleição de hoje no Iraque para a formação de uma Assembléia Nacional. Os eleitores também escolherão os membros das 18 Assembléias provinciais e do Parlamento autônomo da região curda, no norte.

No fim de semana eleitoral, o trabalho é frenético. Enquanto os panfletos são distribuídos do lado de fora da sede, funcionários circulam às correrias no seu interior. Não se sabe ao certo o que fazem, mas correm como se estivessem muito atarefados.

"Nosso partido não é ligado a nenhuma seita", explica ao Estado, o dirigente local Ismael Abdulah Jasin, que diz ser ligado ao movimento sindical. "Somos um movimento nacionalista, que defende a unidade nacional de xiitas, sunitas, curdos, cristãos, todos os iraquianos, enfim. Queremos o fim da ocupação americana, mas entendemos que a eleição e a democracia são o melhor caminho para chegarmos a algum lugar."

Sentado na única sala com móveis na mansão, de óculos, barba negra e cabelos curtos, atrás de uma grande mesa equipada com computador e fumando charuto, Jasin afirmou que o partido pretende eleger um número suficiente de deputados na Assembléia Nacional para influenciar a redação da nova Constituição. Estão em disputa 275 cadeiras.

Em tom de discurso, critica o radicalismo dos grupos religiosos, aos quais atribui a atual onda de violência no Iraque. "Infelizmente, aqui no Iraque nós não temos um, mas sim dois taleban. Temos o taleban xiita e o taleban sunita. Os radicais desses grupos não demonstram nenhuma intenção de fazer concessões para que todos possamos viver em paz e coexistir", declara. "Duas de nossas metas primárias, essenciais para que um dia cheguemos a ter uma democracia de verdade, são a promoção da coexistência entre todos os iraquianos e o combate sem trégua à cultura da corrupção.

Jasin informa que seu movimento já existia durante o regime de Saddam Hussein, mas não como partido. O jornalzinho distribuído nas ruas pelos militantes já circula há vários anos, como órgão oficial da organização pela unidade iraquiana, um movimento cívico, e não político.

Ele diz não temer que os insurgentes provoquem grandes atentados hoje, capazes de tirar a legitimidade do processo eleitoral. "Esses grupos surgiram a pretexto de combater a ocupação, mas hoje combatem só o povo iraquiano, que é quem mais sofre os efeitos de seus ataques. Também somos contra a ocupação, mas estamos a favor da democracia."

O dirigente enfatiza que o fim da ditadura de Saddam foi algo bom, um passo positivo na direção do bem-estar do povo. "O mais importante é que o povo assuma definitivamente o controle do país. Por isso fomos favoráveis à realização destas eleições. Temos muitas metas, muitos objetivos, e pretendemos atingir todos eles", sentencia.