Título: Europeus encontram o paraíso
Autor: Marcelo Onaga
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Cidades, p. C1

A presença de estrangeiros está mudando a cara do nordeste brasileiro. Desde o início da década, com a oferta cada vez maior de vôos diretos da Europa, italianos, portugueses, espanhóis, holandeses, alemães e, mais recentemente, escandinavos começaram a desembarcar com maior freqüência no País. A distância é relativamente curta. De Lisboa a Fortaleza, por exemplo, são seis horas de viagem. Além disso, o baixo custo dos pacotes e a força da moeda européia frente ao real também ajudaram. Pelo câmbio de sexta-feira, 1,00 comprava R$ 3,56. Com cerca de mil euros, metade de uma aposentadoria média por lá, é possível passar duas semanas em hotéis cinco estrelas em Fortaleza, incluindo a passagem. Depois de conhecerem o Brasil, muitos europeus se encantam e querem ficar com um pedacinho da terra. O preço, novamente, é um grande atrativo. Hoje, com o mercado em alta e os preços explodindo, ainda é possível comprar um flat de 50 m2 de frente para o mar no bairro mais procurado de Natal por 33 mil, ou R$ 120 mil. "Para um europeu, isso é pouco", explica o presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio Grande do Norte, Waldemir Bezerra. A maior parte dos estrangeiros que compram um imóvel no Brasil quer aliar um bom investimento ao prazer de ter uma propriedade na praia. "A maioria do europeu de classe média tem uma boa poupança. O dinheiro parado no banco, lá, rende menos de 5% no ano. Por isso investir em imóvel no Brasil é tão bom", diz o consultor imobiliário Almir Fontenele, de Fortaleza. Fontenele especializou-se em atender investidores europeus. Grandes empreendedores que construíram resorts e hotéis no Ceará passaram por seu escritório. Para eles, o turismo sexual - uma praga que vem crescendo à medida que mais estrangeiros chegam ao Nordeste - prejudica os negócios, já que afasta famílias e casais. Mas há também pequenos compradores, dentre os quais alguns que querem apenas um bom pretexto para vir ao Brasil. "Tem muita gente que precisa de uma desculpa para dar para a mulher, porque eles querem mesmo é turismo sexual." O consultor conta que um português de 70 anos comprou uma fazenda que não produz nada, longe da praia, só para ter um pretexto. "Comprou também um apartamento em Fortaleza e vai para lá atrás de mulheres", diz. O problema é que sua mulher descobriu e se divorciou. "Esse tipo de história é mais comum do que se pode imaginar", diz Fontenelle. O perfil da maioria dos investidores estrangeiros, no entanto, está longe do de um turista sexual. Grupos sérios e renomados estão colocando milhões de euros em empreendimentos projetados para receber famílias. José Luís Sá Nogueira, diretor-geral do grupo português Oásis no Brasil, diz que a prostituição atrapalha o turismo. "Nós buscamos praias distantes do centro para construir nossos hotéis porque nosso hóspede quer desfrutar da natureza." O Oásis já tem um resort na Praia das Fontes, em Beberibe, litoral leste do Ceará, e já comprou mais 500 hectares para construir outros quatro hotéis. Além de Beberibe, a praia de Porto das Dunas, no município de Aquiraz, é outra que despertou o interesse de estrangeiros. Lá está sendo erguido, por um grupo estrangeiro, um grande resort com campo de golfe - um investimento de cerca de R$ 1 bilhão. MAREMOTO A procura pelo Nordeste, que já vem crescendo naturalmente, deverá ser impulsionada pela tragédia dos tsunamis na Ásia. O gerente do Grupo Oásis no Brasil, Rogério Vasques, diz que teve de arrumar quartos para acomodar hóspedes de última hora. "São pessoas que iriam para a Tailândia e mudaram de roteiro na última hora", conta. Foi o caso do sueco Bj¿rn J¿nsson. De pacote comprado para Phuket, uma das ilhas mais devastadas da Tailândia, ele teve de mudar de planos e veio para Natal. "Gostei daqui. As pessoas são gentis e as praias, lindas", disse o carpinteiro, que passará duas semanas no Brasil. Dono de restaurantes em Portugal, João Coelho vendeu tudo por lá e construiu uma pousada no litoral leste cearense. "Isto aqui é uma garantia de aposentadoria. Não quero mais deixar esta terra", diz ele. Coelho investiu R$ 1,5 milhão na construção do local e mora por lá mesmo. Aos poucos, começa a divulgar seu negócio e já fez contatos com agências em Portugal. "Pelo menos metade de minha clientela vem da Europa." De olho em um lugar onde pudesse fugir do frio da gélida Noruega, o engenheiro aposentado Toralf Wold, de 60 anos, é o típico representante dos mais novos "descobridores do Brasil", os escandivavos. Ele comprou um flat de frente para o mar na praia da Ponta Negra, em Natal. "Nesta época do ano em minha cidade faz 10º C negativos. Isto aqui é o paraíso na Terra."