Título: Preços disparam e afastam brasileiros
Autor: Marcelo Onaga
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Cidades, p. C1

Terrenos nas praias são disputados por investidores estrangeiros, que constroem condomínios e hotéis de olho em seus conterrâneos Europeus dispostos a comprar flats, apartamentos e casas trouxeram também europeus dispostos a investir na construção de imóveis. Waldemir Bezerra, do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Rio Grande do Norte (Creci-RN), diz que os estrangeiros já adquiriram mais de 400 quilômetros de costa no Rio Grande do Norte. "E, onde eles encontram terrenos de frente para o mar, compram." Essa procura fez os preços dispararem. Um terreno de mil metros quadrados de frente para o mar na Praia da Pipa, no litoral sul potiguar, pode atingir mais de R$ 1,5 milhão hoje. "Há 15 anos se trocava o mesmo terreno por uma prancha de surfe", diz o uruguaio Daniel Arán Fernandez. Ele está em Pipa desde 1999 e é dono de uma das principais corretoras de imóveis do lugar. Nos últimos cinco anos, o metro quadrado de um bom terreno com vista para o mar naquela praia custava de R$ 10,00 a R$ 15,00. Hoje não sai por menos de R$ 70,00. Nos melhores pontos chega a valer R$ 3 mil. No Ceará, a situação não é diferente. O metro quadrado de um terreno no Porto das Dunas, praia onde fica o Beach Park, custa hoje cerca de R$ 60,00. Em 2000 saía por R$ 15,00, conta o presidente do Creci cearense, Antônio Armando Cavalcante. "O mercado teve um aquecimento forte de dois anos para cá, quando começaram a chegar os investidores mais fortes", diz Cavalcante. O aquecimento fez também com que mais corretores surgissem. Em 2002 havia 1.800 corretores no Ceará, hoje há 3 mil. "O estrangeiro sente a necessidade de um apoio e a demanda por esse tipo de serviço cresceu muito", conta o presidente do Creci. Com tamanha procura, os melhores locais do Nordeste passaram a ser privilégio de estrangeiros. Há diversos empreendimentos voltados exclusivamente para o mercado europeu. Em Natal, o grupo norueguês Blue Marlin construiu um flat de 26 apartamentos de frente para o mar. Vendeu todos antes da inauguração, mas os brasileiros não tiveram acesso: a comercialização foi feita toda na Noruega e na Suécia. Um dos compradores é Toralf Wold, um engenheiro aposentado. "Isto é um paraíso. Além do clima e das praias, o preço faz daqui um lugar imbatível." O grupo já tem outro empreendimento em construção e se prepara para erguer um terceiro. Na Praia da Pipa, outro grupo norueguês investiu em um empreendimento voltado só para seus conterrâneos. Todas as unidades do Ocean View foram vendidas antes do início da construção. Diante do sucesso, no terreno ao lado já está sendo erguido mais um hotel do grupo. "Eles vêm atraídos pelo clima e pela ótima relação custo-benefício", diz o gerente-geral do Pipa Ocean View, Mardônio Fialho. "E como têm uma das maiores rendas per capita do mundo podem investir aqui de uma forma que o brasileiro não consegue." Um dado da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Norte dá uma dimensão de como os estrangeiros estão dispostos a investir no Estado. Apenas nos próximos dois anos serão aplicados R$ 480 milhões em empreendimentos turísticos. O italiano Riccardo Delle Compagni é um desses investidores. Ele tem dois flats de frente para o mar na Ponta Negra em construção, cada um com 26 apartamentos. "O estrangeiro é nosso público-alvo. São eles que têm o dinheiro." Compagni foi apresentado a Natal pelo amigo Marco Marasca. Ele é dono de uma pousada, já teve restaurante e acaba de construir um flat com 22 unidades. Quando chegou há 12 anos, diz ele, os terrenos não valiam nada. "Se eu tivesse comprado mais alguns, hoje estaria rico."