Título: Lula ataca a inflação e defende o BC
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Economia, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que seu governo vai ser duro no combate à inflação e que não vai deixar que as eleições de 2006 afetem o desempenho do País em 2005, "o ano mais promissor do Brasil". Desmentindo rumores de que demitiria diretores do Banco Central, em conversa com a imprensa durante o Fórum Econômico Mundial, Lula defendeu a política monetária do presidente do BC, Henrique Meirelles. "Na medida em que o Banco Central detecta que há uma possibilidade de aumentar a inflação, tem como instrumento o aumento de juros", disse o presidente, acrescentando que "precisamos ser duros no controle de inflação para poder garantir o poder de compra da parte da sociedade que ganha menos". Quanto ao boato sobre trocas na diretoria do BC, Lula disse que "não procede", e que "esse tipo de notícia é plantado por alguém que não quer que as coisas continuem tranqüilas". O presidente afirmou que quem anuncia mudanças na sua equipe de governo é ele mesmo. "Estou tranqüilo, as coisas estão bem, e dizem que em time que está ganhando a gente não mexe."

O controle da inflação no Brasil é tanto uma obrigação do BC quanto dos empresários, prosseguiu o presidente. "O que precisamos fazer é conversar com os setores que estão remarcando preços." Se a economia está boa, disse Lula, ninguém precisa aumentar preços. "As pessoas vão ganhar pelo aumento de unidades que vão vender." Para o presidente, o problema da remarcação de preços é uma herança cultural no Brasil. "Durante anos e anos, a inflação fazia parte do cotidiano, e todo mundo se virava, a não ser as partes da população que ganham menos." Os mais pobres, continuou, são os que "não têm sequer o direito de ter uma conta remunerada no banco, e que sentiam o peso total da inflação".

No encerramento do seminário - do qual participaram dezenas de potenciais investidores, que lhe deram ótima acolhida -, Lula também frisou que não deixará que pressões políticas atrapalhem o desempenho da economia em 2005. "O desafio que está colocado para o governo neste ano é o de não permitir que as eleições de 2006 atrapalhem", disse o presidente, adicionando que "certamente isto interessa aos adversários, mas ao governo não".

Lula disse que não permitirá "que o Brasil deixe escapar este momento auspicioso", e acrescentou: "Não seremos irresponsáveis a ponto de permitir que coisas menores atrapalhem. O Brasil já foi um País que teve chances excepcionais, mas por problemas políticos menores, por vaidade, por interesses pessoais, deixou que essas chances desaparecessem. Nós não vamos deixar." Ele afirmou desejar que "2005 seja um ano muito tranqüilo, porque é um ano em que a gente vai dar um salto de qualidade".

No encerramento do seminário sobre investimentos, Lula voltou a fazer uma vigorosa defesa da sua política externa, e deu garantias enfáticas aos investidores de que o Brasil é um bom lugar para aplicarem o seu capital.