Título: Caso argentino não é exemplo, diz Palocci
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Economia, p. B4

ministro da Fazenda, Antônio Palocci, criticou ontem a tese defendida por alguns políticos, analistas e investidores, de que um sucesso na operação de troca da dívida argentina poderá aumentar a pressão sobre o governo brasileiro para que também dê um calote em seus credores. "Pergunte aos argentinos se houve sucesso no calote, somente eles podem responder a essa pergunta", disse Palocci em entrevista à imprensa. "Ouço meu companheiro Roberto Lavagna (ministro das Finanças da Argentina), que não deseja que nenhum país passe por isso, ou o presidente Néstor Kirchner, que falou que está agora subindo os primeiros degraus para sair do inferno." "O temor de um 'contágio' do exemplo argentino foi mencionado, entre outros, pelo economista John Williamson, do Institute for International Economics dos Estados Unidos durante um seminário do Forum Econômico Mundial que discutiu a economia brasileira.

AUTONOMIA

Questionado sobre a resistência de integrantes do Partido dos Trabalhadores aos planos do governo de conceder autonomia operacional ao Banco Central este ano, Palocci demonstrou bom humor. "Gostei muito dos recentes comentários do presidente do meu partido (José Genoino) sobre isso", disse. Segundo Palocci, as negociações para a autonomia legal do BC estão avançando. "Isso não é uma briga, é um processo de diálogo", disse.

Palocci afirmou ter recebido "várias manifestações de interesse" em relação aos projetos para as Parcerias Público-Privadas (PPPs) no Brasil por parte de investidores estrangeiros durante o evento em Davos. "Principalmente nas áreas de rodovias e ferrovias, que vão iniciar as PPPs", disse. Segundo ele, o grupo Alcoa confirmou que fará uma série de investimentos no País. Ao comentar a ajuda financeiras aos países pobres - um dos temas que dominaram o Fórum Econômico - Palocci disse que o Brasil tem feito sua parte. "Cancelamos a dívida de Moçambique conosco, de Angola, da Bolívia, essa é a contribuição que o Brasil está dando a esse esforço", disse. "Espero que os países ricos ofereçam contribuições maiores, pois os países muito pobres não têm condições de pagar suas dívidas."

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, voltou a negar os rumores de que pretenda abandonar o posto ainda neste ano para se candidatar nas eleições de 2006. "Isso é boataria, nego isso peremptoriamente", disse Meirelles a jornalistas. Ele reclamou do que considera a insistência da imprensa em abordar o tema. "Não se deve falar demais esse tipo de coisa, eu já dei a resposta." Segundo Meirelles, as críticas à política monetária e aos boatos de mudanças na diretoria do BC refletem o elevado grau de autonomia da instituição.

A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles antecipou para ontem seu retorno ao Brasil, que estava previsto para hoje. Ele viajaria no Airbus presidencial .