Título: Na inflação, um alívio com as commodities
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Economia, p. B7

Depois da alta histórica de preços das commodities em geral - agrícolas e não agrícolas - alcançada no ano passado, a tendência para este ano é de cotações declinantes, puxadas para baixo principalmente pelo fraco desempenho dos produtos do agronegócio. Um índice de preço de commodities elaborado pela MSConsult, que leva em conta cotações internacionais de 16 produtos, 9 agropecuários e 7 commodities não agrícolas, ponderados pela participação de cada item na pauta de exportações brasileiras, mostra que os preços médios desses produtos em dólar ficaram no ano passado 22,4% acima da média de 2003. "Para este ano, a perspectiva é de um recuo de 3% a 5%", prevê o sócio da MSConsult, Fábio Silveira.

Ele destaca que no caso do produtos agrícolas, os preços médios deverão ter um declínio de cerca de 10% neste ano ante o anterior, afetados principalmente pelo fraco desempenho da soja, cuja cotação em dólar caiu mais de 30% nos últimos 12 meses. E a tendência é de que o nível de preços do grão continue baixo em razão da oferta maior do que a demanda. Até para o café e o açúcar, com cotações em alta, a perspectiva é declinante para o segundo semestre.

Já o índice de preços das commodities não agrícolas, que inclui aço, petróleo e minério de ferro, entre outros, a tendência para 2005 é de crescimento na faixa de 4%, mas bem abaixo do salto de 30% em 2004 em razão do aço e do petróleo.

O céu não é de brigadeiro para a inflação em 2005, mas a pressão que as cotações das commodities agrícolas e não agrícolas irão exercer sobre o Índice de Preços por Atacado (IPA) deverá bem ser bem menor que e 2004, sobretudo nos produtos industrializados.

"O IPA industrial vai crescer menos este ano e, com isso, o impacto nos Índices Gerais de Preços (IGPs), no qual o atacado responde por 60%, será atenuado", diz Silveira. Em 2004, o IPA industrial calculado pela FGV acumulou alta de 20%, diante de um IGP de 12,14%. "Neste ano, o IPA deve cair pela metade por conta de um IGP estimado em 6,5%."

Entre os fatores apontados pelo economista para a menor pressão no atacado estão a valorização do real perante o dólar e a perspectiva das commodities não agrícolas, exceto o aço e o minério de ferro, não registrarem altas tão expressivas de preços neste ano.

De acordo com Silveira, as cotações de alguns produtos industrializados básicos já mostram, na ponta, que atingiram o limite de alta e não terão mais fôlego para continuar subindo. É o caso do papel e da celulose. As cotações do papel subiram 6,88% em dólar no ano passado e abriram o ano estabilizadas. Na celulose, a alta em 2004 foi de cerca de 9%. Em dezembro, os preços internacionais subiram 3,3% e neste mês aumentaram em ritmo menor (2,3%).

"Neste ano vão começar a maturar os projetos de investimentos que foram postos em andamento por causa da valorização dos preços do papel e da celulose. No caso do aço, as cotações elevadas também suscitaram uma oferta maior."

Ocorre que o intervalo entre a decisão de construir uma nova fábrica e colocá-la para rodar geralmente é de um ano e meio. Por isso, a resposta da oferta à forte elevação de preços registrada em 2004 será sentida ao longo deste ano, com o ritmo das cotações das commodities não agrícolas tendo um suave declínio. "Até mesmo para o petróleo não se trabalha mais com uma cotação de US$ 50 a US$ 60 para o barril do tipo Brent. A perspectiva é de uma queda sazonal no 4.º trimestre de 2005."

De toda forma, Silveira lembra que, apesar de a tendência ser declinante na média dos preços, o patamar atual das cotações das commodities industriais é elevado. "A alta de 20% no IPA industrial acumulada em 2004 pesa na estrutura de custos das empresas e é um fator de remarcação", diz.

Ele ressalta que essa pressão dos industrializados é um foco de preocupação do próprio governo. Talvez, por isso, a última ata do Copom tenha sinalizado com juro básico ainda maior se for necessário. Já os produtos agrícolas, que contribuíram para segurar a inflação a partir do 2.º semestre de 2004, deverão continuar neste ritmo em 2005. M.C.