Título: Governo cria 4o órgão para atrair investidores
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Economia, p. B9

Dia 1.º de fevereiro, começa a funcionar a Unidade de Investimentos da Apex - a quarta instância criada no governo Lula para atrair investimentos estrangeiros. Em agosto, foram criadas a Comissão de Incentivo aos Investimentos Produtivos e a Sala de Investimentos, ligadas ao Ministério da Casa Civil e sob o comando do assessor especial do ministro José Dirceu, Walter Cover. A comissão se reuniu uma única vez e a sala de investimentos tem três funcionários. No início do ano passado, havia sido estabelecido pelo Ministério do Desenvolvimento o Grupo Interministerial de Atração de Investimentos, que organizou os eventos para investidores em Genebra, Nova York e Davos. Todos esses órgãos teriam a missão de substituir a Investe Brasil, uma entidade público-privada que fechou as portas em setembro, após deixar de receber recursos do governo e de entidades. Nos dois anos e meio de funcionamento efetivo da Investe Brasil, o governo aplicou cerca de R$ 4 milhões na entidade. A agência captou US$ 1,4 bilhão em investimentos de 11 projetos já implantados. Segundo fontes da Investe Brasil, o governo não aproveitou nada da agência - nem mesmo o website, banco de dados e lista de projetos da agência, avaliados em R$ 1 milhão. "Eles jogaram tudo no lixo, não usaram nada", diz a fonte.

Enquanto isso, os novos órgãos de atração de investimentos estão com a organização um pouco confusa. Segundo Walter Cover, coordenador da Sala de Investimentos, a unidade de Investimentos da Apex é subordinada à sala. "A Apex e outras instâncias são instrumentos que vamos utilizar, mas nós chefiamos tudo", disse. "A Apex não pode fazer nada sem a nossa aprovação, a sala de investimentos é o órgão que controla toda a estratégia de atração de investimentos", diz. Já segundo a Apex, os órgãos trabalham "em equipe" e a Apex só se reporta ao Ministério do Desenvolvimento, e não à Casa Civil.

"Não dá para entender. Por que criar várias coisas novas para substituir uma que já existia e funcionava bem?", pergunta Roberto Teixeira da Costa, sócio da Prospectiva, consultoria da área internacional. "Foi um desperdício ter jogado fora tudo da Investe Brasil, e concentrar a atração de investimentos na Casa Civil. Não tem pé nem cabeça."

Segundo Cover, a estrutura da Investe Brasil não foi aproveitada porque fica no Rio, e é mais fácil centralizar tudo em Brasília. Ele afirmou que a agência não funcionava bem porque faltava foco na atuação. De acordo com Cover, a Sala de Investimentos está ajudando empresas que já estão nos trâmites finais para realizar seus projetos, com trabalho de marketing e fornecimento de informações.

Por enquanto, a sala ainda nem tem um website para os investidores - segundo Cover, ele está sendo desenvolvido e estará disponível em dois meses. Ele afirma que serão contratados mais dois funcionários: "Não precisamos de mais do que isso. Utilizamos o pessoal de outros órgãos."

Cover diz que a Sala já tem 44 projetos de investimentos listados, uma pendência de US$ 33 bilhões. "Se conseguirmos um terço disso já será uma maravilha", afirma. O empresário Ingo Pl¿ger, ex-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, é o diretor da nova unidade de investimentos da Apex.