Título: Efeito Chávez cria tensão no mercado
Autor: Simon Romero, Brian Ellsworth
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Economia, p. B12

A Venezuela pode estar elevando a tensão nos mercados de energia com decisões que estão confundindo as empresas petrolíferas internacionais, mas o governo de Hugo Chávez diz que meramente está buscando mais receita e novos mercados para seu petróleo. Peter J. Hill, diretor-presidente da Harvest Natural Resources de Houston, que obtém todo seu petróleo da Venezuela, teve uma experiência com as políticas que estão se desenrolando no país. O estoque da Harvest perdeu um quarto do seu valor na semana passada, porque a empresa de petróleo estatal da Venezuela inesperadamente lhe disse para suspender a exploração.

O plano da ConocoPhillips, de desenvolver um novo campo petrolífero na Venezuela, foi suspenso há cerca de duas semanas, e Rafael Ramírez, o ministro da Energia venezuelano, disse na semana passada que o governo irá rever seus 33 contratos operacionais com empresas de petróleo, desde a década de 90, para ver se ainda fazem sentido para a Venezuela.

Esses entraves acontecem no momento em que as autoridades , no decorrer do mês passado, mantiveram conversas com empresas de petróleo controladas pelo governo da China, Rússia e Irã.

"Sou um empresário e não gosto de me envolver em política", disse numa entrevista Hill, cuja companhia vem operando na Venezuela há mais de uma década. "Mas há uma mudança nítida na forma como as coisas são feitas na Venezuela".

A visão da Venezuela é diferente. O governo do presidente Hugo Chávez disse que negociará suas contendas com a Harvest e com a Conoco para chegar a acordos sobre produção e dispêndio. Mas os analistas dizem que, num momento em que o petróleo bruto alcança altos preços no mundo inteiro e há uma onda de atenção na direção da China, os venezuelanos estão também tentando exercer um controle maior sobre seus recursos e expandir sua gama de compradores - assim como conseguir contratos mais lucrativos.

O acesso a algumas das mais cobiçadas reservas de petróleo do Hemisfério Ocidental está em jogo, com a Venezuela exportando cerca de 1,2 milhão de barris de petróleo por dia para os Estados Unidos, o que representa quase 15% das importações americanas. Mas as aproximações com os chineses, russos e iranianos fizeram com que aumentasse a preocupação entre as empresas petrolíferas privadas de que as políticas venezuelanas em relação a elas estão se tornando cada vez mais imprevisíveis.

As apreensões também estão crescendo em relação à possibilidade de que a Venezuela possa eventualmente desviar os embarques dos Estados Unidos, que agora recebem mais da metade da produção total da Venezuela, para outros lugares. Os venezuelanos dizem que ainda consideram os Estados Unidos seu principal mercado, acrescentando que somente a nova produção seria transferida para a China.

Toda essa apreensão tem sido sentida agudamente em Houston nos últimos dias. As ações da Harvest, que produz cerca de 30 mil barris de petróleo ao dia na Venezuela, despencaram quase 30% desde que a empresa informou que a Petróleos de Venezuela, a companhia petrolífera controlada pelo governo, lhe disse para reduzir sua produção em um terço.

"Não sou capaz de ler a mente do governo venezuelano", disse Hill, que acrescentou na segunda-feira que autoridades do ministério de Energia venezuelano sinalizaram que estavam abertas a negociações sobre as atividades da Harvest no país. Ele disse que não sabe porque a companhia de petróleo do governo "ia querer restringir os investimentos e a produção".

A interface de comunicação com o governo está ficando muito mais difícil de interpretar", acrescentou ele.

Os investidores estão prestando muita atenção nas operações venezuelanas da ConocoPhillips, uma das maiores empresas internacionais de energia que opera lá, depois que o plano deles no valor de US$ 480 milhões para desenvolver um campo petrolífero na costa leste foi suspenso este mês em meio a rixas com a Petróleos de Venezuela por causa dos termos do projeto. A Conoco obtém cerca de 7% da sua produção mundial da Venezuela. (A Dow Jones mencionou que Ramírez disse segunda-feira que o governo está próximo de chegar a um acordo com a Conoco.) Paul Sankey, um analista do Deutsche Bank, escreveu uma nota aos investidores na semana passada na qual diz que "estamos extremamente preocupados sobre o que parece ser uma situação em aceleração na Venezuela". Ele recomendou a redução na posse de ações da ConocoPhillips. Sankey afirmou que as empresas americanas que operam na Venezuela, incluindo a ConocoPhillips, a Harvest e a ChevronTexaco, estão entre as "principais perdedoras em potencial em decorrência dessa situação imprevisível".