Título: Hambúrguer em linha de montagem
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2005, Economia, p. B16

Quem entra pela primeira vez no complexo industrial da rede de lanchonetes McDonald's em Osasco, na Grande São Paulo, se espanta com o gigantismo. Suas máquinas produzem a cada minuto 700 pães e processam 100 toneladas de carne por dia. É um empreendimento de US$ 70 milhões que, seis anos depois de sua inauguração, luta para se adaptar aos novos tempos do fast-food. O complexo é formado por três empresas - a distribuidora Martin Brower, o frigorífico Braslo e a empresa de panificação FSB Foods. São companhias americanas que chegaram ao Brasil trazidas pela rede de lanchonetes e que lançaram as bases da chamada Cidade do Alimento. Com parte da produção ociosa, buscam outros clientes além da rede para alavancar seus negócios. Além disso, o McDonald's está empenhado em arranjar-lhes novos vizinhos no terreno de 160 mil metros quadrados. O objetivo é reduzir os custos de operação do complexo e racionalizar ainda mais a logística da rede. A primeira investida deve ser na área de sucos e embalagens.

A rede de lanchonetes está negociando a instalação no complexo de uma fábrica da Minute Maid, empresa de sucos de frutas da Coca Cola, fornecedora que produz seus sucos em uma unidade em Bebedouro. "É uma proposta ousada e que vai exigir uma série de mudanças na infra-estrutura", explica o diretor de compras e qualidade do McDonald's, Celso Cruz . No setor de embalagens, a empresa negocia com a fornecedora de descartáveis Dixie Toga, recém-comprada pelo grupo americano Bemin, e com a fabricante de caixas de sanduíches Brasilgráfica. A idéia é que as empresas montem pequenas linhas de produção para atender às necessidades da rede.

O McDonald's enfrenta uma série de desafios no Brasil. Um deles é conseguir explorar todo o potencial oferecido por uma estrutura gigantesca como a Cidade do Alimento numa época em que os consumidores começam a torcer o nariz para seu produto principal, o hambúrguer. Novas empresas no condomínio podem também significar novas oportunidades de negócio para os atuais ocupantes, como a distribuidora Martin Brower.

"O complexo era parte de um plano de expansão que hoje não corresponde mais à nossa realidade", explica Cruz.

No fim dos anos 90, quando a Cidade do Alimento foi criada, a rede abria um novo restaurante a cada cinco dias no País. "Todas as empresas chegaram aqui com projetos de expansão prontos, tamanha era a projeção de crescimento do McDonald's", relembra a supervisora de garantia de qualidade da fábrica de pães FSB Foods, Alessandra Corralo .

A partir de 2003, o McDonald's, com resultados pouco satisfatórios, colocou o pé no freio e mudou sua estratégia. Em vez de aumentar o número de lojas resolveu aumentar a rentabilidade, oferecendo um cardápio mais amplo e chamarizes para novos clientes, como saladas. Além disso, fechou 34 lojas e partiu para uma exaustiva negociação com franqueados em litígio.

Como resultado, conseguiu no ano passado seu melhor desempenho no Brasil, com faturamento recorde de R$ 1,9 bilhão e crescimento de 12% nas receitas. Por outro lado, tanto o frigorífico Braslo quanto a FSB Foods trabalham com 80% de sua capacidade de produção. Segundo estimativas da rede, a Martin Brower deverá transportar 12 milhões de caixas essa ano, 6% a mais que em 2004, mas mesmo assim o equivalente ao que foi transportado em 2001. Depois de conseguir reverter a má fase em que se viu no passado, o McDonald's enfrenta agora o desafio de fazer a Cidade do Alimento funcionar a pleno vapor.