Título: Lula diz que dívida social é 'quase impagável'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem em Guarulhos, na Grande São Paulo, que pode haver erros e equívocos no programa Bolsa-Família, cobrou maior seriedade no cadastramento dos beneficiados e ressaltou que seu governo vai combater a fome e a miséria "doa a quem doer". Diante de cerca de 10 mil pessoas, que lotaram um ginásio poliesportivo - Guarulhos é a maior cidade do Estado governada pelo PT -, o presidente participou da entrega do cartão do Bolsa-Família e declarou que "é quase impagável" a dívida social do País. "Deixaram para nós, ao longo de muitos anos, uma dívida social quase impagável, tão grande quanto a dívida interna que nós herdamos", disse. "Se assumimos o compromisso de honrar contratos com relação às nossas dívidas, não poderíamos deixar de assumir o compromisso de honrar muito mais que um contrato, honrar nosso compromisso de que combater a fome e a miséria tem de ser prioridade do nosso governo, doa a quem doer."

Ao lado dos ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Humberto Costa (Saúde) e Olívio Dutra (Cidades), o presidente reconheceu: "É lógico que quando criamos um programa como esse pode ter equívocos, pode ter erros." Na tentativa de resolvê-los, Lula destacou o papel que da imprensa, ao denunciar irregularidades. "Muitas vezes a imprensa mostra isso (as irregularidades) e ficamos zangados", comentou. "Mas eu penso que a imprensa está cumprindo seu papel de informar a sociedade e, ao mesmo tempo, alertar o governo de que nós precisamos agir, como você tem agido, companheiro Patrus."

PRESOS

Lula afirmou que o Fome Zero, no qual está incluído o Bolsa-Família, é possivelmente o maior programa de transferência de renda da América Latina. "Não vejo nisso grande vantagem, porque ter o Fome Zero num país como o Brasil significa dizer que durante muitos e muitos anos os governantes esqueceram parcela da população que, por conta do esquecimento, foi ficando pobre."

Ele disse que seu sonho como presidente não é distribuir cartão de programa de governo para ajudar as pessoas mais pobres, mas sim que todos tenham trabalho e, por meio dele, recebam salário e vivam dignamente, sem precisar do auxílio federal.

Em defesa do Bolsa-Família e do Fome Zero, Lula disse que o desembolso com todos os programas sociais sai "mais barato" do que o que se gasta com presos. Em média, uma família beneficiada pelo Bolsa-Família recebe R$ 80 por mês. "É mais barato do que a gente gasta para cuidar de determinados tipos de bandido, em que somos obrigados a colocar carro-forte para transportá-los, com 10 ou 12 policiais atrás, e helicóptero para cima e para baixo." Para o presidente, "investir em política social hoje é permitir que não seja necessário construir uma cadeia amanhã".