Título: Chanceler de Fidel vem discutir dívida e diz que em Cuba 'há plena liberdade'
Autor: Denise Chrispim Marin, Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Nacional, p. A5

O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Felipe Pérez Roque, desembarcou ontem em Brasília para uma agenda de encontros com a cúpula dos poderes Executivo e Legislativo. Felipito, como é conhecido - apontado como provável sucessor de Fidel -, aproveitou para defender velhos lemas do governo cubano. Declarou, por exemplo, que em Cuba "há plena e ampla liberdade de expressão". Ao ser confrontado com uma indagação sobre o fato de os opositores de Fidel terem sido encarcerados, retrucou com outra máxima revolucionária. "Somos um país sitiado. Então, não podemos criar espaço para colaboradores dessa política", afirmou o chanceler, de apenas 39 anos, em referência ao embargo imposto pelos EUA.

Os temas que trouxeram Pérez ao Brasil foram a agenda de cooperação bilateral definida desde a visita do presidente Lula a Havana, em setembro de 2003, e o lento andamento do mecanismo de redução da dívida de US$ 50 milhões com o Brasil.

Na tarde de hoje, o chanceler cubano se reunirá com o presidente Lula e, em seguida, com o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Antes será recebido para um encontro de trabalho e um almoço com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Ontem, Pérez visitou os presidentes da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e ainda o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Logo depois de encontrar-se com João Paulo e Sarney, Felipito declarou que seu país vê com "simpatia" a aspiração brasileira de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU - expressão que, entre diplomatas, está longe de significar um aval, mas que não significa um constrangedor "não".

Pérez deverá tratar um novo crédito do Brasil para a compra de alimentos pelo governo cubano. Entre as dívidas de Cuba com o País está a histórica discrição de Brasília na discussão anual sobre os métodos de Havana na Comissão de Direitos Humanos da ONU.

Para a outra dívida, de US$ 50 milhões, o governo brasileiro comprometeu-se, em 2003, a pôr em marcha um mecanismo de abate à medida que o Ministério da Saúde do Brasil efetuasse compras de medicamentos cubanos.